Aperte para receber atualizações por e-mail.

Follow Para ler sem olhar on WordPress.com

RSS Feed RSS - Posts

wordpress hit counter
(function(i,s,o,g,r,a,m){i['GoogleAnalyticsObject']=r;i[r]=i[r]||function(){ (i[r].q=i[r].q||[]).push(arguments)},i[r].l=1*new Date();a=s.createElement(o), m=s.getElementsByTagName(o)[0];a.async=1;a.src=g;m.parentNode.insertBefore(a,m) })(window,document,'script','//www.google-analytics.com/analytics.js','ga'); ga('create', 'UA-59047112-1', 'auto'); ga('send', 'pageview');
//www.facebook.com/plugins/follow?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fvianadiego&layout=standard&show_faces=true&colorscheme=light&width=450&height=80

Blogroll

  • A Navalha de Dalí
  • Agência Pública
  • André Egg
  • Às moscas
  • Ágora com Dazibao no Meio
  • Fabiano Camilo
  • Incinerrante
  • Mundo Abrigo
  • NPTO
  • O Descurvo
  • O Ingovernável
  • O Palco e o Mundo
  • Olho de corvo
  • Ponte.org
  • Pra Falar de Coisas
  • Recordar, Repetir, Elaborar

Web Analytics
  • Widgets
  • Pesquisa

Para ler sem olhar

Diego Viana

Arquivo da tag: logo

barbárie, calor, cidade, crônica, descoberta, desespero, escândalo, férias, fotografia, imagens, imprensa, Itália, morte, opinião, reflexão, verão, vida

Morte em Torregaveta

19/07/2009Diego Vianaadolescente, afogada, afogamento, afogar, agora, areia, ataúde, atual, badulaque, banhista, berlusconi, blog, Brasil, cadáver, caixão, cardeal, cínica, cínico, chocada, chocado, choque, churrasco, cigana, cigano, cinismo, clérigo, correnteza, corrupção, criança, descanso, diocese, escolho, esquecimento, europa, falecer, férias, frescobol, golpe, governo, hoje, horror, humanidade, humano, imagem, imediato, indiferença, indiferente, indignação, italiano, Itália, jornal, jovem, Kusturica, lembrança, logo, medo, memória, mendigar, mendigo, menina, morrer, morte, nápoles, necrotério, onda, pedra, poder, policia, pra frentex, prafrentex, praia, rom, selva, selva urbana, silvio berlusconi, simbologia, subúrbio, terror, topless, torregaveta, tragédia, verão 15 Comentários

É curioso que, num país onde alguém como Silvio Berlusconi consegue se eleger e reeleger, o maior escândalo midiático gire em torno da indiferença, como se de repente os italianos se dessem conta de que andam indiferentes a tragédias em geral. Curioso talvez não seja a palavra… sintomático talvez fosse melhor: afinal, a indiferença faz parte de nossas lamentações sobre a vida neste início de século, além de ser uma estratégia de sobrevivência eficaz e inevitável nas nossas selvas urbanas. E isso vale também para a Itália, cuja população parece não perceber que há um bufão no leme, conduzindo a península para os escolhos do Mediterrâneo. Está certo: curioso é a palavra.

Mas eis a história, ocorrida há exatamente um ano: quatro adolescentes roma (até algumas décadas atrás, seriam designadas simplesmente como ciganas) foram a uma praia perto de Nápoles, de nome Torregaveta. Segundo a mui confiável polícia italiana, elas lá estavam para mendigar, vender badulaques e aplicar pequenos golpes, desses que conhece exaustivamente quem tenha passeado por qualquer cidade europeia. Mas nem as diabólicas ciganas são de ferro, como atesta aquele Kusturica. A tarde estava muito quente, a brisa era gostosa, o mar interior tinha seu tom azul pelo qual até Catão já suspirou. As meninas decidiram dar um mergulho.

Com a mudança dos ventos e das correntes, o idílio descambou para a tragédia. Carregadas pela força das águas, elas viram a terra se afastar e se puseram a gritar em desespero. Os mui ágeis e prestativos salva-vidas napolitanos lançaram um barco ao mar e conseguiram resgatar duas das moças. Mas Cristina, 13 anos, e Violeta, 12 anos, foram carregadas pela correnteza e atiradas contra as pedras. Afogaram-se. Os corpos foram levados para a praia e cobertos com toalhas, à espera de que o também mui ágil necrotério da região enviasse os ataúdes. Não demorou mais que três horas.

Começou aí a polêmica. Um fotógrafo registrou diversas imagens dos corpos largados sobre a areia. Ao fundo, famílias tomam sol como se nada de anormal se passasse naquela praia. Das senhoras em topless à garotada jogando frescobol, passando pelos marmanjos a preparar seu churrasco armados de cerveja em latinha, não vinha um olhar sequer, nem de esguelha, para as duas massas inertes a poucos passos da tranquilidade estival. E lá ficaram, esquecidas e largadas, as duas jovens vítimas das águas traiçoeiras, que jamais reverão a luz ofuscante que queimava a pele de seus vizinhos. O cadáver, pelo menos no sul da Itália e em certos subúrbios do Brasil, deixou de ser algo chocante.

Chocada ficou a opinião pública, diante da insensibilidade dos banhistas. O cardeal Crecenzio Seppe, arcebispo de Nápoles, escreveu no blog de sua diocese (aliás, que diocese prafrentex!) que a indiferença “não é uma reação para humanos”. A afirmação é bastante discutível e parece indicar uma estranha tendência de religiosos para apontar falta de humanidade nos outros, mas a sensação de desconforto e repulsa pela atitude dos banhistas é bastante compreensível. Os jornais Corriere della Sera e La Reppublica publicaram editoriais em que se diziam impressionados e revoltados. Um grupo italiano de defesa dos Direitos Humanos sublinhou a atmosfera de “racismo e horror” que viceja no país, lembrando os recentes ataques do “governo” Berlusconi à comunidade rom, com direito a fichamento e violência policial.

À parte as particularidades da Itália, é difícil comentar um fenômeno perturbador como esse. Digo “perturbador” porque vai além da mera indiferença perante a morte ou a desgraça alheia. Esse aspecto da questão está mais do que documentado em análises da cultura contemporânea de diversos matizes. O caso Torregaveta, porém, toca em categorias muito mais profundas e terríveis da mente humana: o poder da imagem, a simbologia da morte e, o que é talvez mais atual, a memória recente. Senão, vejamos:

Todos os dias, agimos com indiferença perante desgraças que, nos cálculos de nossa boa consciência, consideramos inaceitáveis e bestiais. Ver uma criança esmolar, por exemplo, deveria nos levar a todos à loucura. Mas isso não acontece, porque se não nos cercamos de um muro de indiferença e cinismo, mais do que loucos, talvez acabemos mortos. Mas isso não impede que mesmo o mais frio e individualista dentre nós sinta um nó na garganta, ao se ver diante da mão rechonchuda esticada e os olhos enormes e suplicantes de um menino a pedir dinheiro. Mesmo no Brasil, essa sensação de desconforto, quase culpa, às vezes é maior do que o medo de ser assaltado. Mesmo assim, controlamos as emoções e respondemos: não.

Esse é o poder da imagem, de que falei acima. Confrontados a uma visão perturbadora, trememos. Mesmo que seja apenas uma fotografia. E os artistas exploram essa força irresistível em suas obras desde tempos imemoriais. Ainda que estejamos mais do que acostumados à ideia da morte violenta, que nos metralham os jornais, os filmes, a televisão, a princípio ainda não estamos tão obnubilados a ponto de não conseguir diferenciar, do ficcional e do distante, o presente, o real, o inefável e inescapável.

Em Torregaveta, não foi o que aconteceu. A imagem parece ter perdido todo seu poder. A presença física de dois corpos sem vida não evocou na cabeça daqueles banhistas nenhuma associação de morte, de terror, de repulsa. Teriam eles se reconciliado perfeitamente com a certeza de nossa mortalidade? Certamente, não. Simplesmente eles reagiram ao concreto, ao factual, como se estivessem diante de um filme de Hollywood ou coisa que o valha. Eles se portaram, afastados poucos passos da evidência de nossa fragilidade, como alguém que lesse a notícia numa coluna de faits divers do jornal, ou melhor, que recebesse uma notinha por RSS. A morte, até mesmo a morte próxima, se tornou para eles um espetáculo, mas pior: um espetáculo sem graça, porque desprovido de toda a técnica de suspense que os gênios da indústria cultural perfeccionam há décadas.

A isso se soma a questão da simbologia da morte: quem não está cansado de escutar histórias de casas amaldiçoadas porque alguém morreu em um de seus cômodos? Essas histórias existem porque a morte é, ou costumava ser, uma noção muito forte no nosso imaginário. Também, pudera. É a morte, cáspite! O trauma que ela provoca, quando não é esperada, deveria contaminar tudo em volta: o ambiente, o momento, os objetos envolvidos. Como no caso das casas amaldiçoadas ou, mais concretamente, das mães que deixam trancados os quartos de filhos falecidos, porque a dor de arrumá-los seria forte demais.

O que se esperaria dos frequentadores de Torregaveta seria um desconforto enorme de apenas estar na mesma praia que um par de cadáveres. Normalmente, o mar, o ar, a areia, tudo estaria impregnado com a proximidade da tragédia. As pessoas deveriam sentir que a morte ainda rondava; talvez imaginassem os fantasmas das meninas, talvez cressem que alguma divindade tivesse atirado uma maldição sobre o lugar, quem sabe até vissem um esqueleto com uma foice… pouco importa. A perturbação não precisaria assumir nenhuma imagem específica ou concreta: ela deveria apenas ser sentida. Mas não foi. As meninas mortas marcaram o imaginário dos banhistas como as águas-vivas: basta guardar uma certa distância.

Não me pergunte como é possível. Talvez estejamos esquecendo de que somos mortais. Talvez nossa cabeça não consiga se afastar das pressões do quotidiano. Talvez tenhamos perdido a força ou a coragem de imaginar. Talvez nossa capacidade de ter medo de riscos fantasiosos esteja sobrecarregada com as imagens de um terrorismo onipresente. Talvez isso, talvez aquilo, talvez um milhão de coisas. Certo é apenas que não se pode considerar normal a indiferença perante a morte.

E assim chegamos ao terceiro e último ponto: como as pessoas conseguem continuar jogando seu frescobol e pegando seus jacarés depois que as ondas carregaram e trituraram os ossos de duas meninas, na mesma praia, no mesmo mar? Já não estamos mais falando de imagens, nem de símbolos: estamos muito concretamente evocando um perigo real, concreto e presente: um mar imprevisível, traiçoeiro, assassino. Seriam os turistas intrépidos? Pelo contrário. Não há timorato maior do que o turista, principalmente o europeu que frequenta as praias do sul da Itália. Então che cosa?

Meu chute: sem concentrar com muita força nossa atenção, perdemos a força de diferenciar o “agora há pouco” do “agora, agorinha mesmo” e do puro e simples agora. Os banhistas que se metiam na água poucos minutos depois de buscarem os dois corpos sem vida talvez tivessem até se esquecido de que qualquer coisa do gênero tenha acontecido. Mais ou menos como ratos de laboratório, que apagaram da memória os choques levados na véspera e continuam de sofrer em busca de um pedaço de queijo. O imediato, o instantâneo, virou um paradigma tão poderoso que se insinuou no nosso inconsciente e estrangulou a memória, até mesmo a memória recente. Estamos aleijados e, no caso da turma de Torregaveta, a próxima mudança da correnteza pode nos carregar também.

Pareço muito alarmado? Desculpe, não foi a intenção. Mas é que, sem assumir um tom meio apocalíptico, é difícil ser levado a sério. Ou talvez eu esteja exagerando mais uma vez, mas não posso evitar. Quando um bando de gente de sunga consegue demonstrar que a imagem perdeu o poder, a morte não significa mais nada e a memória de alguns minutos atrás foi completamente apagada, não consigo deixar de sentir que algo está errado, muito errado.

É por isso que discordo do cardeal que vê a turma da praia como não lá muito humana. Se há alguém que pode perder essas capacidades fundamentais, é o ser humano; da mesma maneira, é o ser humano que pode apontar o fato quando acontece. Por fim, só o ser humano pode recuperar aquilo que foi perdido. Resumindo, não adianta chamar os outros de menos humano; é improdutivo, além de falta de educação. Para o bem e para o mal, estamos na montanha-russa da existência humana, e é nossa humanidade que não pode se tornar indiferente jamais. Por sinal, espero que já não tenha se tornado.

Compartilhe isso:

  • Clique para enviar um link por e-mail para um amigo(abre em nova janela)
  • Clique para imprimir(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Pinterest(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Reddit(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Pocket(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Skype(abre em nova janela)

Curtir isso:

Curtir Carregando...
Padrão
abril, alemanha, barbárie, Brasil, calor, centro, costumes, crônica, crime, descoberta, desespero, deus, direita, escândalo, esquerda, férias, flores, folhas, fotografia, frança, francês, imagens, ironia, Itália, jornalismo, junho, modernidade, obrigações, opinião, paris, passado, passeio, pena, praça, prosa, rússia, reflexão, Rio de Janeiro, roubo, Suécia, tempo, transcendência, trânsito, tristeza, verão, viagem, vida

Paris não tem segredos

15/11/2008Diego Vianaa princípio, aberta, aberto, abertura, abrir, acima, administração, administrador, afastada, afastado, afastar, agosto, ainda, ajuda, ajudar, além, alemanha, alguém, almoçar, almoço, alta, alteridade, altitude, alto, amarelecer, amarelecida, amarelecido, amarelo, andar a pé, ano, ano passado, antes, antiga, antigo, apagar, aparência, aparecer, aparente, aparição, apartamento, aplicação, aplicada, aplicado, aplicar, apresentação, apresentar, apressada, apressado, aproximação, aproximar, aproximativa, aproximativo, aquecer, aquecida, aquecido, aquecimento, assim, atirada, atirado, atirar, automóvel, avançar, avanço, avenida, avenida nevski, árvore, ícone, última, último, bairro, bairro afastado, baixa, baixar, baixo, balançar, balanço, balanceada, balanceado, balanceio, basta, bastar, bem, berlim, bi-dimensional, bidimensional, borrar, boulevard, breve, breviário, brevidade, brinquedinho, brinquedo, bulevar, cair, calor, calorífera, calorífero, calorenta, calorento, caminhão, caminho, cansaço, cansado, cansar, cansativa, cansativo, canto, capacidade, capacitada, capacitado, capaz, capital, caracala, carne, carro, carrossel, carta, casa, caso, castigado, castigar, causa, causar, cá, câmara, câmara fotográfica, câmera, câmera fotográfica, célebre, césar, céu, céus, celebridade, central, centro, certa, certamente, certo, chegar, china, chinês, chinesa, cidadã, cidadão, cidade, cidade eterna, cidadela, cinco, clicar, clique, coisa alguma, como, companhia, compra, comprada, comprado, comprador, compradora, comprar, conceder, concentração, concentrado, concentrar, concessão, congelada, congelado, congelamento, congelar, conhecer, conhecimento, conjectura, conjecturar, consolidar, constantino, constantino o grande, construção, construir, contratada, contratado, contratar, contrato, cor, cor de creme, correio, correios, correspondência, cortina, cortinas, crônica, creme, criança, crime, criminal, criminalidade, curiosa, curiosidade, curioso, currículo, cursos, dígito, dúvida, decidida, decidido, decidir, decisão, definição, definida, definido, definitivo, dentro, depois, descartada, descartado, descartar, descartável, descoberta, descobridor, descobrir, desejo, desesperada, desesperado, desesperador, desesperar, desesperdadora, desespero, desfocada, desfocado, desfocar, desprovida, desprovido, desprovimento, deus, digital, digitar, dimensão, dimensional, direita, direito, discreta, discreto, discrição, distanciamento, distanciar, distante, distância, dizer, dormir, dormitório, dostoievski, dostoievsky, dupla, duplo, dura, duração, duradouro, durante, durar, duro, duvidar, duvidosa, duvidoso, edifício, edificação, edificar, eficacidade, eficaz, eficiência, eficiente, em ruínas, empresa, encarnada, encarnado, encontrada, encontrado, encontrar, encontro, enfim, enganada, enganado, enganar, engano, enorme, enquanto, enter, entrar, entroncamento, enviar, ermitage, esbaldar, escrever, escrita, escritório, escritor, escritora, escuridão, escuro, esforçada, esforçado, esforçar, esforço, esmero, espaço, espelhar, espelho, espera, esperar, espessa, espesso, espessura, esquerda, esquerdo, estação, estações do ano, estacionamento, estacionar, Estocolmo, estrangeira, estrangeiro, estranha, estranhamento, estranho, estrondo, estrondosa, estrondoso, eterna, eternal, eternidade, eterno, eu, evocação, evocar, existência, existente, existir, expor, exposição, exposta, exposto, expressão, expressiva, expressividade, expressivo, face, fala, falar, fantasia, fantasma, fantástica, fantástico, fazer, física, físico, fealdade, fechada, fechado, fechamento, fechar, feia, feiúra, feio, ferramenta, figura, fila, fila dupla, fileira, fim, final, finalidade, fiodor, fiodor dostoievski, flórida, flor, flores, floricultura, florido, florir, flutuante, flutuar, foco, fora de foco, fotógrafa, fotógrafo, foto, fotografada, fotografado, fotografar, fotografia, fotográfica, fotográfico, frança, francês, francesa, francesas, franceses, frente, gamla stan, gaveta, gás, gerar, gestão, gestor, google, google analytics, google earth, google reader, graça, graciosa, gracioso, grossa, grosseira, grosseiro, grosseria, grosso, guarda, guardar, hd, hermitage, hora, iconografia, iconográfica, iconográfico, ideal, idealismo, idem, identidade, identificação, identificar, imagética, imagético, imagem, imaginação, imaginar, imaginário, império, impedimento, impedir, imperador, imperador constantino, imperatriz, imperial, imperialismo, importante, importar, importância, improvisação, improvisada, improvisado, improvisar, improviso, início, incômodo, inclinação, inclinada, inclinado, inclinar, incomodado, incomodar, indefinidamente, indiscrição, insígnia, inserir, instalação, instalar, instrumento, intenção, interior, interminável, intimidação, intimidado, intimidar, intimidativo, intocada, intocado, invadir, invasão, invasiva, invasivo, invenço, inventar, invento, inverno, irracional, irracionalidade, irritada, irritado, irritante, irritar, italiana, italiano, Itália, janeiro, janela, júlio césar, jornal, lado, lançamento, lançar, lar, largo, larguinho, lábio, lã, letra, logo, loja, lugar, maior, maior parte, malemolente, manter, manutenção, maquinário, máquina, máquina fotográfica, mês, móvel, melhor, menor, mensal, mesmo, mesmo assim, metralha, metralhadora, metralhar, monumental, monumento, moradia, morar, morrer, morta, morte, morto, mundo, mundo todo, museu, museu ermitage, museu hermitage, nada, nasa, navegador, navegadora, navegante, navegar, nítida, nítido, número, negação, negar, nenhum, nenhuma, nero, neutra, neutralidade, neutro, nevski, ninguém, nitidez, noite, nome, nossa, nosso, nova, novidade, novo, numeral, numerário, observação, observador, observadora, observar, ofender, ofendida, ofendido, ofensa, ofensiva, ofensivo, olho, onde, original, originalidade, originalmente, outono, outra, outro, papa, parada, parado, parar, parede, paris, parisiense, parisienses, parte, passada, passado, passar, passear, passeio, patética, patético, pateta, pé, pé de pimenta, pétala, pública, público, pensador, pensadora, pensamento, pensando, pensar, pensativfa, pensativo, pequena, pequeno, perfeitamente, perfeito, pergunta, perguntar, perto, pessoa, pessoal, pimenta, pimenteira, placa, plena, plenitude, pleno, poder, ponto turístico, portanto, pose, posição, posicionar, possível, possibilidade, pouco, praça, prédio, próxima, próximo, prefeitura, preferência, preparação, preparar, presença, pressa, primavera, primeira, primeira vez, primeiro, princípio, privilégio, produção, produtiva, produtividade, produtivo, produzir, programa, programador, provimento, publicação, publicar, qualquer, qualquer um, quando, quarto, quarto de dormir, quase, quatro, queda, queira deus, quem, querer, racional, racionalidade, racionalismo, radiante, radiar, redescoberta, redescobrir, registrar, registro, reprodução, reprodutiva, reprodutivo, reproduzir, responsabilidade, responsável, restaurante, restaurante chinês, resultado, resultante, resultar, retratação, retratada, retratado, retratar, retrato, Rio, rio de janeiro, Roma, romana, romano, roxa, roxo, rua, ruína, ruela, ruinosa, ruinoso, saúde, saber, sala, sala de estar, salva, salvação, salvar, salvo, saudável, segredo, segunda, segundo, segurança, sem-número, semana, semanal, semanário, sensação, sensacional, ser, setembro, sinal, sistema, sobevôo, sobrevoar, sono, Suécia, substituição, substituir, substituta, substituto, sucessão, sucessiva, sucessivamente, sucessivo, sueca, suecas, sueco, suecos, suja, sujeira, sujo, também, tantã, tanto, término, tela, tempo, tentação, tentador, tentadora, tentar, tentativa, terminal, terminar, tipo, tirada, tirado, tirar, tiro, toda, todo, tornar, tornar-se, totalidade, traje, transcrever, transcriço, transformação, transformar, transitar, trás, trânsito, três, tri-dimensional, tridimensional, turismo, turista, um, uma, universal, universo, unter den linden, vacuidade, vaso, vaso de flores, vazia, vazio, vácuo, várias, vários, vôo, vento, ver, verão, verdade, verdadeira, verdadeiro, vermelha, vermelho, vez, viagem, viajar, viela, violeta, virgem, virginal, virtual, virtualidade, virtualmente, visão, visível, visibilidade, visita, visitar, vista, visto, voar, vontade 16 Comentários

… E logo, logo, nenhuma cidade terá. Veja bem. Isso que aparece na fotografia acima são as duas janelas de minha casa. A da esquerda é o quarto de dormir, com as cortinas vermelhas, improvisadas, que instalei para substituir as originais, também encarnadas, mas bem mais grossas e eficientes, que caíram com um estrondo patético na primeira noite em que tentei fechá-las. À esquerda, a sala, com a cortina original, cor de creme, e dois vasos, um com flores, o outro com uma pimenteira. Os vasos já existem desde o ano passado. Estiveram vazios durante todo o último inverno, a maior parte da primavera, também. As flores, comprei para substituir as antigas, que estavam mortas. Foi no início de agosto, salvo engano. A flor mais alta, violeta, ainda estava fechada, só foi se abrir no final do mês. A fotografia, portanto, só pode ter sido tirada na última semana de agosto ou nas primeiras de setembro.

Quem gerou essa imagem não foi minha máquina fotográfica. Encontrei-a depois de baixar o Google Earth, pensando que seria a ferramenta ideal para me ajudar a preparar as viagens que, queira Deus, ainda farei. E será, sem sombra de dúvida. Navegando por suas telas, passeei virtualmente pela Unter den Linden de Berlim e pela Gamla Stan de Estocolmo. Vi de perto a distância entre o museu Ermitage e a avenida Nevski, tantas vezes evocada no desespero transcrito de Dostoievski. Fui a Roma, que tenho boca, baixei a aplicação que reproduz a capital do império no tempo de Constantino e me esbaldei de passear por suas construções, monumentos e edifícios, descobrindo a aparência intocada das ruínas que conheci há mais de um ano. O Google, novo Constantino ou novo César, como queira, me concedeu a graça que os administradores do turismo italiano me negaram.

Em Roma, encontrei um instrumento magnífico. A princípio, pelo menos. Pequenos ícones que retratam câmeras fotográficas. Clica-se sobre eles e se é atirado dentro da cidade, numa fotografia tridimensional tirada sabe-se lá por quem, sabe-se lá quando. (Era certamente verão.) Da primeira vez, acreditei que seriam só os grandes entroncamentos, os pontos turísticos, os centros importantes da cidade eterna. Qual o quê. A cada número da rua, vê-se um outro ícone, depois outro e outro mais. É possível inventar caminhos por todos os cantos de Roma, como quem anda a pé, mas sem se cansar, sem sentir o calor, sem ser ofendido por algum italiano grosseiro, só de clicar sucessivamente nas máquinas intermináveis que vão se apresentando à sua frente.

Rostos e placas de carro, enfim, tudo que possa identificar alguém, são desfocados. Anda-se por avenidas e vielas onde ninguém tem face, figuras congeladas em seus trajes, poses e caminhos, mas desprovidas de olhos, lábios, expressões. É um passeio em que o vento é morto de uma morte estranha, ainda capaz de inclinar as árvores, mas não balançá-las. Onde os sinais vermelhos se recusam a passar ao verde, mas os motoristas não se impacientam. Onde o pequeno trânsito irritante, causado por algum caminhão parado em fila dupla, é eterno enquanto assim o mantiver o gestor desse programa do Google. É a presença física numa cidade estrangeira, tão física quanto pode ser uma presença virtual.

Cansado da vista de Roma, deixei-me invadir pela curiosidade. Quão bem fotografada seria Paris? Considerando, claro, que, para além do universo Google, é a cidade mais retratada do mundo, logo à frente do nosso malemolente Rio de Janeiro. Os bairros mais afastados teriam o mesmo privilégio do centro? Os mais feios? Os mais sujos? Os mais castigados pela criminalidade? No espaço de um segundo, com o esforço concentrado de digitar as cinco letras do nome da cidade e um Enter decidido, vi-me a sobrevoar esta outra capital, mais nova, mas nem por isso menos célebre que o lar dos papas e imperadores.

Posicionei o cursor sobre meu bairro. Aproximei a imagem e esperei enquanto ela se tornava mais nítida. Aos poucos, pude identificar a praça, a rua de trás, o carrossel das crianças, a fileira de árvores no larguinho. Apareceram, um depois do outro, os ícones de máquina fotográfica. Cliquei no que parecia mais próximo do meu prédio. Não era, havia outros, mas pude ler as insígnias das lojas, dos correios, do restaurante chinês, onde almoço quando a pressa fala mais alto que a saúde. De câmera em câmera, fui me achegando de minha pequena rua. Entrei à direita. Bem à frente, li o nome do estacionamento enorme que é responsável por mais de metade do barulho que às vezes me impede de dormir.

Fui avançando até chegar na imagem que registrei acima. Minhas janelas, visíveis por qualquer um, em qualquer parte do mundo. No meu caso, era quase um espelho. O verdadeiro observador, do lado de cá, no outono, quase inverno, aquecido pelo gás, em plena escuridão. Do lado de lá, minha presença virtual, flutuando pela rua nas últimas semanas do verão, com flores radiantes, essas que, para o verdadeiro eu, de carne, que escreve e não flutua, já estão amarelecidas e sem pétalas.

Estranha sensação. Um sem-número de fotografias tiradas, rostos apagados com esmero, imagens consolidadas e inseridas no enorme sistema de mapas da NASA que o Google transformou em fantástico brinquedinho. Em breve, será assim no mundo todo. Qualquer pessoa que já me enviou uma correspondência, ou qualquer um a quem já enviei meu currículo, poderá ficar curioso de saber onde e, mais ou menos, como moro. Bastará entrar no programa para descobrir. Não imagino que tipo de resultado isso possa ter. Conjecturo, mesmo, que talvez não possa causar nada, seja perfeitamente neutro, não mude coisa alguma no mundo ou só o mude para melhor…

Enfim, não há nada de racional nisso, mas a verdade é que fiquei incomodado, diria mesmo intimidado. Metralhei-me com perguntas: como se produziu a imagem das minhas janelas, pelos céus!? Alguém foi contratado para passear pela cidade inteira, em vários lugares do mundo, visitando ruela por ruela, bairro por bairro, a tirar fotografias tridimensionais a cada três ou quatro passos? Ou teria o Google comprado os registros das câmeras de segurança da prefeitura, que, por sinal, nem são tantas assim…

Essas fotos em que minhas cortinas aparecem fechadas poderiam ter sido tiradas poucas horas antes, ou depois, e as cortinas estariam abertas, meus móveis à vista, as fotografias da parede, essas bem pessoais, expostas. Nesse caso, estou certo, o Google, novo Nero, novo Caracala, teria borrado a visão de minha vida pessoal, ou melhor, da parte mais pessoal da minha vida, antes de lançá-la a público em seu programa. Mesmo assim, segue que o fotógrafo terá visto. O programador, idem. A imagem original talvez ficasse guardada no HD da empresa, como numa gaveta de jornal, esperando para ser descartada ou redescoberta, indefinidamente. Indefinidamente…

Eu disse em algum lugar, talvez até no título deste texto, que Paris não tem mais segredos. Mas se fosse só isso, ora, que é que tem! A tendência é, cada vez mais, que tudo se saiba, tudo se veja, tudo se conheça e esqueça tão rápido quanto acontece. Certo? Boa pergunta, não sei dizer. Mas eu, cá no meu canto devassado pelo Google, bem que gostaria de ter um ou outro segredinho todo meu. E antes que me acusem de ser dissimulado, antiquado, inadaptado, já digo que não é nada disso. Nem se trata de fazer charme. Timidez, talvez seja. Mas pode ser uma mania idiota, coisa de quem não consegue apenas viver no próprio mundo. Talvez seja pedir demais, mas eu gostaria muito se, para ter uma visão das minhas janelas, alguém tivesse de vir até aqui.

Compartilhe isso:

  • Clique para enviar um link por e-mail para um amigo(abre em nova janela)
  • Clique para imprimir(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Pinterest(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Reddit(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Pocket(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
  • Clique para compartilhar no Skype(abre em nova janela)

Curtir isso:

Curtir Carregando...
Padrão
Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.
  • Seguir Seguindo
    • Para ler sem olhar
    • Junte-se a 233 outros seguidores
    • Já tem uma conta do WordPress.com? Faça login agora.
    • Para ler sem olhar
    • Personalizar
    • Seguir Seguindo
    • Registre-se
    • Fazer login
    • Denunciar este conteúdo
    • Visualizar site no Leitor
    • Gerenciar assinaturas
    • Esconder esta barra
 

Carregando comentários...
 

    %d blogueiros gostam disto: