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Para ler sem olhar

Diego Viana

Arquivo da tag: diálogo

arte, cinema, comunicação, crônica, descoberta, fotografia, francês, história, humor, literatura, livros, modernidade, opinião, prosa, reflexão, tempo, vida

Xavier Dolan, olho nesse garoto

01/03/2011Diego Vianaalmodóvar, amor, amores imaginários, bauhaus, canadá, cannes, cineasta, cinema, citação, cultura, davi, diálogo, diretor, escrita, escritor, festival, filme, garoto, homossexual, jovem, literatura, matei minha mãe, menino, michelangelo, pasolini, personagem, québec, rapaz, roteiro, sexo, sexualidade, triângulo amoroso, visconti, xavier dolan 3 Comentários

Em 2009, escrevi sobre o filme de estreia de um garoto de 19 anos do Canadá, de nome Xavier Dolan. O filme se chamava “Matei Minha Mãe” e eis o último parágrafo da resenha:

“Dolan prepara seu próximo filme; sabe-se lá quando vai ficar pronto, neste tempo em que é tão fácil um especulador enriquecer quebrando sua empresa, mas é tão difícil um artista praticar sua arte. Quantas promessas aparecem que não se concretizam! Por prudência – e não sei mais se essa é uma de minhas qualidades ou se é defeito –, evito fazer apostas. Mas esse Xavier parece ser mais do que uma promessa. Tem jeito de saber bem o que está fazendo. O nome está anotado.”

Em 2010, Dolan terminou seu segundo filme. Chama-se “Os Amores Imaginários” e o nome do diretor continua anotado. O rapaz, agora com 21 anos, tem tudo para se tornar um dos grandes, pela forma como escreve, como atua e como dirige. Portanto, olho nele. “Os Amores Imaginários” é feito quase inteiro em planos próximos, alguns muito próximos, mas muito mesmo. As imagens abertas são raras e desconfio que a causa é mais orçamentária do que propriamente estética. Pouco importa: bem facilmente essa insistência no close deixaria um filme insuportável, mas não é o que acontece, e isso demonstra um olhar de cineasta plenamente desenvolvido. Outra insistência perigosa é nas sequências em câmera lenta, mas também aí ele escapa às armadilhas. Continuar lendo →

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arte, literatura, livros, morte, obituário, opinião, português, prosa, reflexão, transcendência, tristeza, vida

Série Citações, II: José Saramago, Todos os Nomes

18/06/2010Diego Vianaburocracia, citação, crítica, diálogo, homenagem, ironia, literatura, livro, morte, nobel, nome, obituário, palavra, personagem, porto, portugal, português, prêmio nobel, saramago, trecho, viagem 1 comentário

Uma triste coincidência: conferi as notícias pela última vez esta manhã no aeroporto do Porto; ao desembarcar, tinha no celular a mensagem de uma amiga informando que José Saramago acabava de morrer. Não posso dizer que eu era um grande leitor do nobelizado luso, mas o último romance que li, nos interstícios de uma viagem mágica por nossa antiga metrópole, era dele: Todos os Nomes. E gostei muito, principalmente porque considerei que leva bastante mitigada a mania de enumeração que sufoca, por exemplo, o Memorial do Convento, esse que poderia ser um romance maravilhoso mas perece por falta de oxigênio.

Separei para postar aqui uma passagem desse livro, mas só esperava fazê-lo daqui a algumas semanas; hoje, eu queria compartilhar uma de Borges. Por motivos óbvios, mudei a prioridade. Todos os Nomes tem algumas passagens realmente memoráveis. Escolhi esta porque revela a capacidade que Saramago tinha de invadir de repente, no meio de um diálogo quase anódino, aparentemente uma mera crítica à burocracia de seu país, a alma de seus personagens (e, por tabela, a de seus leitores). Mais comentários são desnecessários, como sempre:

A mulher olhou-o como se o estudasse, depois perguntou, Há quanto tempo anda metido nesta investigação, Propriamente falando, comecei hoje, mas o conservador já vai ficar zangado quando lhe aparecer de mãos a abanar, é uma pessoa muito impaciente, Seria uma grande injustiça para com um funcionário que, pelos vistos, não se importa de trabalhar aos sábados, Não tinha nada de meu para fazer, era uma maneira de adiantar serviço, Pois não adiantou grande coisa, não senhor, Vou ter de pensar, Peça conselho ao seu chefe, para isso é chefe, Não o conhece, ele não admite que lhe façam perguntas, dá as ordens, e basta, E agora, Já disse, vou ter de pensar, Então pense, A senhora não sabe mesmo nada, para onde eles foram viver quando saíram de cá, a carta que recebeu devia trazer a direcção de quem a enviava, Devia ter, sim, mas essa carta já não existe, Não lhe respondeu, Não, Porquê, Entre matar e deixar morrer, preferi matar, falo em sentido figurado, claro, Estou num beco sem saída, Talvez não, Que quer dizer, Dê-me um papel e algo que escreva. Com as mãos a tremer, o Sr. José passou-lhe um lápis, Pode escrever mesmo aqui, nas costas do verbete, é uma cópia. A mulher pôs os óculos e escreveu rapidamente algumas palavras, Aí tem, mas olhe que não é nenhuma direcção deles, é só o nome da rua onde estava a escola que a minha afilhada frequentava quando se mudaram, talvez por aí consiga chegar aonde quer, se é que a escola ainda lá está. O espírito do Sr. José achou-se dividido entre a gratidão pessoal pelo favor e a contrariedade oficial por ele ter demorado tanto. Despachou a gratidão dizendo Obrigado, sem mais, e, embora num tom moderado, deixou que a contrariedade se manifestasse, Não posso compreender por que tardou tanto tempo a dar-me a direcção da escola, sabendo que qualquer informação, por insignificante que parecesse, seria de vital importância para mim, Não seja exagerado, Apesar de tudo, estou-lhe muito grato, e digo-o quer em meu nome pessoal quer em nome da Conservatória Geral do Registo Civil que represento, mas insisto em que me explique por que demorou tanto a dar-me esta direcção, A razão é muito simples, não tenho ninguém com quem falar. O Sr. José olhou a mulher, ela estava a olhá-lo a ele, não vale a pena gastar palavras a explicar a expressão que tinham nos olhos um e outro, só importa o que ele foi capaz de dizer ao cabo de um silêncio, Eu também não.

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comunicação, Ensaio, imprensa, jornalismo, modernidade, opinião, passado, reflexão, reportagem

Entrevista sem vista

03/08/2009Diego Vianaóbvio, conforto, conversa, diálogo, disputa, e-mail, ediçnao, editor, editora, entrevista, entrevistado, entrevistar, imprensa, jornal, jornalismo, jornalista, mudança, obviedade, palanque, pergunta, repórter, reportagem, resposta, tecnologia 4 Comentários

Este primeiro parágrafo virá cheio de obviedades; é que, óbvias que sejam, elas ainda podem contar com o mérito de pelo menos serem verdadeiras. Assim, é óbvio, como todos sabemos, que a tecnologia do século XXI já está mudando e ainda vai mudar muita coisa, principalmente no modo como fazemos, percebemos, entendemos e avaliamos as coisas. Obviamente, do nosso ponto-de-vista, uma grande parte dessas mudanças será para melhor, mas outra parte tão grande quanto mudará para pior. É evidente. Assim como é evidente que teremos, daqui a vinte ou cinquenta anos (para os que ainda estiverem de pé até la), outro ponto-de-vista tão diferente do atual, que muito do que nos parece ruim será considerado bom e vice-versa. Finalmente, e isso é o mais interessante e talvez menos óbvio: o que nós e nossos filhos consideraremos ruim nesse tal futuro engendrará novas mudanças radicais, pouco importa se tanto quanto as atuais ou não, mas que certamente terão aspectos piores e melhores… e assim por diante. É claro.

Isso posto, posso passar ao menos óbvio e mais pessoal. Se tem uma instituição relativamente recente que me deixa particularmente frustrado, ela se chama “entrevista por e-mail”. Como tudo no mundo (e vou voltar às obviedades, mas só provisoriamente, prometo), essa pequena maldição do século XXI não é perniciosa per se. Mas seu uso disseminado, quase irrestrito, tem uma consequência que me parece terrível – e vou tentar demonstrá-la. O problema é o seguinte: quando a maioria das entrevistas são feitas por e-mail; quando o jornalista prefere mandar as perguntas e esperar as respostas a enfrentar o entrevistado cara-a-cara; quando os editores preferem esse método porque as reclamações são menos prováveis; quando, enfim, as empresas pagam tanto por uma entrevista por e-mail quanto por uma entrevista de verdade, é porque a própria ideia da entrevista perdeu completamente o sentido.

Nem preciso retornar às obviedades, como a de dizer que na palavra “entrevista” está contida a palavra “vista”, o que já deveria dizer muita coisa. De qualquer forma, a etimologia é a primeira a morrer quando as circunstâncias se alteram, e isso não deveria ser nenhum drama. O problema é quando a natureza das coisas fica para trás e continuamos usando o mesmo termo para nomeá-las. Uma simpática piadinha seria exigir a troca do nome “entrevista” por “entretecla” ou coisa que o valha, mas esse não é o ponto.

Antes que me tomem por cínico, já fiz mais de um par de trabalhos desse tipo, sempre com um aperto no coração. Mas, como diz Gilberto Gil num documentário sobre Jards Macalé que vi outro dia, todo mundo tem de se prostituir de vez em quando. É o leitinho das crianças, como dizem. Por sinal, como os mais sagazes já terão desconfiado, recebi hoje mesmo as respostas de uma entrevista por e-mail e esse foi o evento que me induziu a escrever este libelito. Mas falo disso depois.

Fora aquelas básicas, de qualquer matéria, em que se perguntam coisas pontuais para preencher lacunas de um texto, a entrevista serve um propósito bem definido e, a meu ver, bastante nobre. Quando alguém se presta a dar uma entrevista (não coletiva), é porque sabe bem o que está falando e está disposto a responder a questões colocadas à queima-roupa por alguém que, se tiver condições para tal, pode retrucar e exigir explicações depois de ouvir a resposta. Tratando-se, digamos, de jornalismo investigativo, algo que muito admiro mas não faria muito bem, acontecem às vezes coisas bem interessantes: de um lado, alguém se dispõe a dar uma entrevista porque espera usar o jornalista como escada para disseminar leituras enviesadas ou se defender perante a opinião pública; de outro, um repórter que pretende tirar informações do entrevistado que o dito cujo preferia esconder, ou ao menos induzi-lo a se comprometer ou contradizer. Desse jogo de manipulações recíprocas, belíssimas matérias já saíram.

O caso é ligeiramente diferente para entrevistas com intelectuais ou artistas. Não existe antagonismo entre entrevistador e entrevistado, mas o jornalista quer ainda assim arrancar algo diferente, especial. Por exemplo, um escritor que, no meio do diálogo, perceba em um de seus personagens um traço de caráter que lhe tinha escapado até então. Ou o pensador que, sem querer, deixe entrever que sua teoria é racista ou misógina. Resumindo, a entrevista necessariamente envolve algo de inesperado para ambas as partes; e isso resulta do fato de que se trata de um diálogo. O diálogo, e desculpe evocar mais uma vez a etimologia, é um discurso que passa através (do grego día) dos interlocutores. Ou seja, ao final, as perguntas nunca são o que deveriam ter sido no começo e, muitas vezes, caminha-se para longe daquilo que se esperava.

Um interlúdio: não é curioso que esse tipo de diálogo esteja perdendo terreno, ao menos no campo jornalístico, justamente numa era em que as tecnologias de comunicação instantânea estão se desenvolvendo em pontos extremos do assim (estranhamente) chamado “tempo real”? Onde o potencial para o diálogo é maior, o que será que faz com que o diálogo efetivamente realizado seja menor? Eis aí um belo tema de pesquisa… Mas voltemos ao assunto: a famigerada entrevista por e-mail.

Como eu disse, recebi hoje respostas para perguntas enviadas há três dias. É tempo suficiente, vamos convir, para alguém refletir muito bem sobre o que quer dizer. Lendo, pude constatar que as respostas eram mesmo coerentes, pelo menos entre si. Algumas vezes, porém, minhas questões foram (deliberadamente?) ignoradas, e o texto embaixo discorria sobre assuntos que no máximo as tangenciavam. Pior ainda: faltavam duas perguntas, que o entrevistado, um intelectual ex-ministro que se envolveu com reformas malsucedidas, preferiu fingir que não existiam.

No diálogo de uma entrevista de verdade, eu poderia ter insistido, reformulado o tema, sublinhado alguma frase que ele tivesse dito (há várias, mesmo no texto escrito, que dão azo a interpretações bastante polêmicas). Mil coisas. Mas não. Trata-se de uma entrevista por e-mail e, no final das contas, o sujeito conseguiu transformar meu trabalho num palanque para bradar o que bem quisesse. A gota d’água é que meu poder de edição está muito restrito: se a entrevista fosse ao vivo, a própria transcrição do oral para o escrito permite cortar as partes mais cretinas, como o autoelogio e a publicidade indisfarçada. Já o escrito, quando é bem escrito, tem uma linha interna que torna o corte bem mais arriscado.

Trocando em miúdos, a entrevista por e-mail não é realmente uma entrevista, mas um mísero e pálido recolhimento de declarações, travestido de reportagem. É mais confortável para o jornalista, que não precisa ficar depurando fitas durante horas, na redação ou em casa, de madrugada, no fim-de-semana. Basta colocar o texto já mandado no formato e no padrão da organização em que trabalha, coisa rápida. Também é mais confortável para o entrevistado, que pode publicar exatamente aquilo que tem vontade de ver impresso e nada mais. Parece uma win-win situation, mas existe um terceiro jogador, esse que por sinal está cada vez mais escasso: o leitor. O produto que chega a ele é menos interessante, é mais propaganda que jornalismo e provavelmente não traz novidades. Esse aí, o tal leitor, é quem acaba perdendo, como de hábito.

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Laís Bodanzky perscrutando a gafieira

10/07/2009Diego Vianaação, alegria, banda gloria, betty faria, bicho de sete cabecas, bolero, Brasil, cassia kiss, câmera, centro, cidade, cinema, contraste, corte, dança, daslu, desarmado, desarmar, diálogo, elza soares, espaço, espectador, ettore scola, filme, gafieira, história, homem, humano, iluminação, lais bodanzky, lástima, leonardo villar, liberdade, linguagem, maria flor, mulher, paulo vilhena, personagem, pompeia, psicológico, psicologia, roteiro, Samba, samba-cancao, sao paulo, segredo, seqüência, stepan nercessian, sutileza, tonia carrero, trabalhodostoievski, traco de uniao, turbilhão 7 Comentários

Quase deixei de ver Chega de Saudade por causa do título. “Filme sobre Bossa Nova…”, pensei. “De novo! Deve ser caça-níqueis!” Mas, como estava no pacote daquele velho festival, e como é da Laís Bodanzky, cujo talento já ficou provado com Bicho de Sete Cabeças, decidi entrar para ver. Conclusão: o título pode ter tudo a ver com a trama, mas arrisca afastar à toa, à toa o público cansado de filmes históricos aproveitadores. E seria uma lástima, porque Chega de Saudade confirma, reafirma e reitera a qualidade do cinema de sua diretora. Olho nela!

Logo na terceira ou quarta sequência, pude fazer uma constatação que me encheu de alegria (depois me perturbou, mas chegaremos a isso): o filme “tem linguagem”. É um prazer enorme acompanhar o trabalho de uma cineasta que sabe o que faz com a câmera. Dá uma espécie de confiança, porque estou entregando minha percepção e minha sensibilidade a um artista consciente, competente, capaz de fazer de seu instrumento de trabalho uma ferramenta de discurso estético, e não um simples registro de atores e cenários saracoteando na frente da objetiva.

Pois a câmera de Laís Bodanzky perscruta um espaço desconhecido (para nós); espia os rostos atrás de um convite para dançar; invade a intimidade das pessoas, sem que isso seja uma indiscrição. Afinal, são personagens, e o olhar é o de um espectador – melhor amigo de qualquer película. Esse é o cerne do que se costuma considerar como “ter linguagem” no cinema.

Mas não se pode esquecer de todo o resto: os cortes, a direção de atores, o ritmo da ação, o roteiro, os diálogos, a poesia dos desencontros humanos, a música que dá liga a todo esse leque de elementos. O que confere à obra seu poder, aliás, é justamente essa capacidade de articulação. No caso de Chega de Saudade, o resultado é um poema que requebra e balança, sem temor, entre a amargura e a esperança, lírico como O Idiota de Dostoievski e O Baile de Ettore Scola.

E é mesmo de baile que se trata. Chega de Saudade foi filmado no inconfundível salão do Traço de União, velho salão da Pompéia (ou seria Pompeia?), em São Paulo. Até alguns anos atrás, naquela construção antiga e maltratada, as gerações se encontravam para dançar ao ritmo de todas as épocas. Mas isso foi no tempo em que a Banda Glória ainda era uma delícia, não tinha se mudado para a Daslu do samba em que se apresenta hoje.

O salão do Traço de União é representado com uma fidelidade que só reconhece quem foi. Os frequentadores, idem, e mais um aspecto a louvar é a maquiagem fiel e desmistificadora nos rostos de atrizes que vemos, normalmente, através de um véu de beleza plástica. Betty Faria está formidável como a mulher desesperada por amor, oferecendo-se, implorando como criança por ser chamada para dançar. Tônia Carrero e Leonardo Villar fazem um casal irresistível, encantador na amargura de uma velhice que teimou em vir, contra todos os esforços. Menção honrosa, também, para Stepan Nercessian, Cássia Kiss e até Maria Flor, que melhorou muito desde o último filme em que a vi (ou será o dedo da diretora?).

A cultura da gafieira, tão coisa nossa, está magistralmente reproduzida no que tem de mais profundo e sutil: seu caráter de foro de encontros fugazes, onde cada um expõe os movimentos de seu corpo, grosseiros ou graciosos, por esporte ou simplesmente pelo deleite de balançar com a música. Mas não são só os corpos que se expõem, é claro: nunca são. Na multidão, a presença do outro é tão incontornável quanto as batidas dos pandeiros. Cada um, ali, está tão frágil e despido quanto os demais, no espírito e na mente; e estão frágeis e despidos justamente porque não podem guardar a postura reservada e sisuda dos corpos quando não estão dançando.

Golpe de mestre, no filme, foi ter chamado Elza Soares para cantar. E ela não usa o próprio nome: é uma dessas cantoras desconhecidas de gafieira, mesmo que o espectador, diante do rosto de Elza Soares, diante da voz inconfundível de Elza Soares, saiba que aquela é a grande cantora. Elza volta às raízes, e nós também. Analogamente, podemos dizer que todos ali estão nas raízes: o homem mais velho que se encanta com a menina, e ela que se encanta de volta. O conquistador que se faz de viúvo para atrair as mulheres. O dançarino formidável que não suporta ver toda aquela gente “apenas se divertindo” e o profissional atrá de uns trocados. Todos estão desarmados, o que faz deles personagens perfeitos para um filme tão sutilmente psicológico. A exceção à leveza fica por conta daqueles que precisam trabalhar; o contraste é tão gritante que um dos personagens chega ao cúmulo do ciúme.

É uma pena que, hoje, os diretores não possam fazer um filme a cada ano, como era antigamente. Eles não têm mais o direito de experimentar e errar. Com isso, os bons como Chega de Saudade, que são ótimos, mas não necessariamente geniais, aparecem como verdadeiras obras-primas. Seja como for, esta obra, somando-se ao Bicho de Sete Cabeças, firma Laís Bodanzky como uma das diretoras mais competentes do cinema brasileiro atual. Seria ótimo se ela pudesse produzir com mais regularidade.

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05/03/2009Diego Vianaabandono, aniversário, artigo, audiênciasósia, avanço, blog, círculo, charles darwin, cheerleader, comentário, comunicação, comunicado, comunicar, conta, conversa, darwin, delicious, descartes, diálogo, discussão, embed, escrever, escrita, expressão, falsidade, funcionamento, gênio, gênio maligno, harold pinter, hype, hyperklink, ilusão, lévi-strauss, linguagem, link, maio, maligno, manoel de oliveira, março, marshall mcluhan, mcluhan, meio, meme, mensagem, mentira, modernidade, motivo, mundoauto-engano, pagerank, pensamento, plugin, postagem, preencher, preenchimento, publicação, quimera, rené descartes, tautologia, tecnologia, trackback, treet, troll, tumblr 43 Comentários

Eu deveria deixar este texto guardado até maio, quando meu blog completa surpreendentes três anos de idade, entre percalços, mudanças e um sem-número de quase abandonos. Afinal de contas, é esse o momento em que, a princípio, deveríamos abrir um artigo com um “quando comecei este blog…” Mas nunca é demais dizer: números redondos e datas comemorativas são duas coisas que muito me incomodam, então maio virá em março mesmo, e lanço o bom e velho:

Quando comecei este blog, achava que não ia durar. Eu era cético, para início de conversa. Quase três anos depois, até que me acostumei, mas ainda tenho um pé bem atrás quando me falam em blogs, twitters e outras pequenas maravilhas do pequeno futuro. Mas a maior dúvida, e que serviu mesmo, por assim dizer, de motor para o impulso de criar o blog, foi uma dúvida pessoal. Quem abre um espaço no formato de um blog pressupõe que vai ter algo a dizer regularmente. Em geral, todo dia. E eu duvidava seriamente de que seria meu caso.

Cheguei a ficar pasmo com tantos blogs de tanta gente que escrevia com freqüência e disciplina. Cheguei a pensar que eu era o mais desleixado dos homens, porque em pleno 2005 ainda não postava na internet todo santo dia, como essas pessoas. Cheguei a considerar a possibilidade de entrar para o mercado financeiro. Logo eu, que sempre me achei cheio de idéias e que tanto escrevia nos meus caderninhos…

Ingênuo eu, que me deixei enganar pela prolixidade da blogosfera. Pouco a pouco, fui me dando conta de que muito raramente alguns daqueles tantos textos que iam surgindo, dia após dia, tinham mesmo alguma coisa a dizer. Percebi, finalmente! Eu estava diante de mais uma dessas reversões que sempre caracterizaram as técnicas de comunicação, mas nunca foram previstas a tempo de escaparmos do turbilhão (como se jamais tivéssemos podido escapar aos turbilhões da história…).

Esclareceu-se um pouco melhor o princípio dos blogs e correlatos. Há muitas exceções para ele, felizmente, mas nunca uma exceção invalidou um princípio, muito pelo contrário: sempre o realçou. Pois o que entendi foi que, na essência, não se escreve em blogs para atualizar o germe de uma mensagem. Não é expressão, não é comunicado, não é nem mesmo opinião. Ao contrário, a publicação, a escrita, a atualização da página é que justificam a busca de opiniões, mensagens, sentimentos e idéias a expressar.

Todas essas páginas pessoais que criamos como “espaços onde digo o que penso” mascaram esse princípio em que, já sublinhou Marshall McLuhan (mas com outro sentido), “o meio é a mensagem”. Sem um exercício muito cuidadoso de observação, tudo que se possa pensar para uma postagem nada mais será do que um pretexto para preencher o blog. Sei bem o quão estranha soa essa afirmação, mas basta um pouco de distanciamento para verificá-la.

O que são todos esses neologismos 2.0, senão estofo do meio, se passando por mensagem? Meme, hype, hyperlink, tweet, feed, tumblr, trackback, poke, delicious, troll, embed, plugin, pagerank? (Tentei imprimir um ritmo de cheerleader, acho que não deu certo…) Em última análise, são ferramentas que se justificam mutuamente, numa tautologia de números e ligações cujo objetivo principal, ao lado de manter o Google por perto, é dar a impressão de uma atividade frenética e fértil que jamais poderia ser verdadeira.

Desde que me dei conta disso, abandonei toda ambição de me adaptar ao bom funcionamento da blogosfera. Mas ainda restava a mesma dúvida: se não vou escrever para justificar o fato de estar escrevendo, o que, então, escreverei? Eu ainda precisava justificar para mim mesmo o fato de entrar na página de administração e oferecer a desconhecidos algo que não lhes interessa. Afinal, se vou dizer algo, cumpre saber para quem estou dizendo, e merecerá um tapa na orelha quem disser “para o mundo”. Não só o mundo não está preocupado com o que cada blogueiro dos rincões do planeta tem a dizer, como seria necessário, para escrever “para o mundo”, redigir centenas de vezes o mesmo argumento, a mesma mensagem, a mesma idéia, para atingir pelo menos uma fração dos diversos tipos de receptor que há no “mundo”. Querer falar “para o mundo” (inteiro) resulta, via de regra, em falar para rigorosamente nada. Haja força de vontade para conversar com nada.

Se o blog é um diálogo, então é diálogo com quem? Com outros blogueiros? Voltamos à tautologia cheerleader de que já falei. Eu seria obrigado a procurar os assuntos do momento e inventar uma opinião. Mas por que raios vou querer fazer isso? Inventar uma opinião sobre temas que desconheço, só para atrair visitantes e preencher meu blog – e voltamos à armadilha! Algo aí está faltando. Esse diálogo não atravessa lugar nenhum, antes ricocheteia nas próprias paredes e reverbera até a surdez. Não pode ser isso.

O curioso é que, apesar de tudo que escrevi nos últimos parágrafos, continuo preenchendo meu blog, às vezes com quatro textos num mês, às vezes com nove. Parece que todo o discurso que abriu este texto é charminho, conversa fiada para parecer diferente. Um pouco, talvez. Não vou negar. Mas também é verdade que sou movido por uma convicção injustificável de que o diálogo existe em alguma parte e não é regido só pela quimera tautológica de uma grande comunidade de internautas. Pode ser auto-engano, mas acredito que não estou escrevendo aqui só para preencher o espaço. Tenho a nítida impressão de que estou dizendo algo a alguém.

E não vou fazer suspense. Descobri com quem dialogo quando me pus a especular sobre o motivo de passar, às vezes, tanto tempo quase sem escrever para o blog, como foi nos últimos meses. Assunto não faltou. Quis comentar os centenários de Lévi-Strauss e Manoel de Oliveira e a morte de Harold Pinter, por exemplo, e não o fiz. Observei bastante a polêmica (um tanto peculiar) em torno de Darwin, mas não escrevi a respeito, algo que teria feito imediatamente, em condições normais. O que faltou foi estabelecer o diálogo.

Comecei a ver que o que coloco no papel para publicar aqui nada mais é do que a formatação de uma discussão que acontece dentro da minha cabeça. Uma parte de mim pergunta, a outra responde; ou então, um lado propõe alguma coisa, o outro refuta. Uma terceira porção pode, também, lembrar de alguma coisa que eu ia esquecendo. Só que, enquanto está na cabeça, todo esse papo não resulta em nada. Surge e se desmancha no mesmo instante, porque é isso mesmo que acontece com o pensamento, esse ciclone sem direção, nem sentido.

Daí a escrita, daí a postagem, daí o blog. É como se eu fabricasse para mim mesmo uma audiência imaginária, que pode ter um número perfeitamente indefinido de pessoas, desde que, bem no centro da sala, esteja eu mesmo, escutando e replicando. Comentaristas vêm e vão, alguns, pouquíssimos, ficam, tornam-se até amigos, colegas, vizinhos. Aprendemos juntos, debatemos, discordamos, como em toda discussão, mas o fato é que nunca sei quem serão, se virão, nem mesmo se existem de fato ou se é sempre o mesmo malin génie cartesiano que se multiplica a cada post, só de molecagem.

E não faz mal. Enquanto houver a garantia daquele meu sósia, na verdade minha projeção, bem à minha frente, atento para o que tenho a dizer, haverá razão para seguir. Terei o que dizer.

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barbárie, conto, costumes, crônica, desespero, economia, escândalo, história, inglês, ironia, opinião, pena, Politica, prosa, reflexão, trabalho

Seção diálogos: Quando a falência é dos outros

01/10/2008Diego Vianaações, ásia, índice, bancarrota, banco, baseball, beisebol, bolsa, bolsa de valores, briga de casal, cardiologista, cirurgia, corretora, corretora de valores, courchevel, criança, crise, crise bancária, crise econômica, crise financeira, debate, democratas, derrocada, desespero, diálogo, dinheiro, discussão, enfarte, escândalo, esposa, esposo, estados unidos, eua, falência, família, hong kong, infarto, ironia, jantar, loucura, marido, médico, mulher, new york, nova york, nyse, peixe, politica, quebradeira, red sox, republicanos, seul, tóquio, telefone, usa, viagem, wall street, washington, yankees 15 Comentários

Uma família para a qual dinheiro não é problema, à mesa do jantar numa mansão de Westchester, subúrbio adorável de Nova York. O pai é cardiologista; a mãe, corretora de valores; as crianças, dois meninos ruivinhos e cobertos de sardas, são malcriados, mas futuros vencedores.

Os homens da casa, muito animados, discutem beisebol com a boca cheia. A mãe, com as pontas do garfo, empurra os pedaços do peixe, para cá, para lá, pela superfície do prato. A expressão em seu rosto, como era de se esperar, está carregada e inamistosa. Mas não é por culpa da conversa que domina a mesa, conforme veremos.

Seu celular toca de repente e ela se levanta, estabanada, para atender. Quase faz a cadeira cair para trás. Sem pedir licença, nem perdão, ela corre até o escritório e atende.

– Yeah!

É seu sócio: Steve. Ele está de plantão, acompanhando a movimentação das bolsas asiáticas. A corretora dos dois aplica em Tóquio, Seul, Hong Kong. A razão do telefonema é que ele acaba de colocar a mão em dados terríveis, estatísticas bombásticas, uma punhalada no coração da empresa. Ela pede os papéis por fax e em poucos minutos eles já deslizam pelo aparelho.

Já suando frio, ela tenta se concentrar em entender o que dizem aqueles números negativos. Mas da sala de jantar vêm as vozes que a desconcentram:

– De jeito nenhum os Red Sox vão ganhar dos Yankees! No Way!

– Josh Beckett vai acabar com o jogo!

– No way!

Ela fecha a porta, mas pouco adianta. Os rapazes, do outro lado, estão exaltados. Discutem quem é o melhor pitcher, quantos home runs cada time vai fazer, se o time de Boston vai conseguir o bicampeonato ou não. Incrível como eles podem altear a voz por um assunto tão banal quanto a Major League, quando Wall Street está se esfarelando.

Mas ela continua se esforçando para acompanhar a derrocada dos títulos públicos, o encolhimento das ações e a aproximação da falência. À toa.

– Pai! Pai! Joe Girardi prometeu, ele pro-me-teu que a World Series este ano é dos Yankees!

Foi a gota d’água. A mãe do dono daquela vozinha aguda insuportável amassa as folhas que tem na mão (involuntariamente, por certo), escancara a porta e retorna à sala de jantar. Furiosa, ela bate o pé e resfolega como um cavalo de tração.

– Pelo amor de Deus, Dickie (esse é o marido)! Como é que você pode discutir beisebol numa situação dessas? Você não lê jornal? Não ouviu falar da quebradeira? O mundo está virando de cabeça pra baixo! Eu vou à falência! Seu insensível! Seu grosseirão! Discutindo beisebol! Você devia estar arrancando os cabelos, como eu!

Só que Dickie, que entornou umas latinhas de Coors antes do jantar, não leva a esposa a sério.

– Que nada, Holly dear. Meu cabelo já cai sozinho!

E se põe a rir. Mas Holly não acha nada engraçado.

– A nossa economia está indo pro buraco. Olha aqui, olha: As ações da UBS caíram 93%. As vendas da Chrysler caíram 33%. O valor das hipotecas caiu 55%. Tudo caindo! Você não viu os números? É o desastre. Vão eleger os democratas! Podemos esquecer a viagem pra Courchevel no natal. E a faculdade das crianças, dear Lord, como é que fica?

Mas Dickie está calmo, frio como um assassino em série.

– Não fique assim. Mesmo que a bolsa caia 100%, está tudo bem. Eu não trabalho na bolsa.

– Mas Dickie! Tem reflexos na economia como um todo!

– Sim, Holly dear. Justamente. Eu sou cardiologista. Quanto maior for o desastre econômico, mais os investidores vão sofrer enfartes que eu vou operar. Ou seja… tenho trabalho garantido. E cobro caro, no doubt! Fique tranqüila, querida. Termine o seu jantar. Deixe que eu pago por Courchevel.

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Brasil, costumes, crônica, descoberta, frança, francês, ironia, modernidade, opinião, passado, prosa, reflexão

Do tradicional e do caduco

29/03/2008Diego Vianaacerto, aeroporto, aeroporto charles de gaulle, aeroporto de paris, aeroporto de roissy, agressão, airbus, alegria, alemanha, alemã, alemães, alemão, alemãs, América, americanófilo, amigo, antigo, aplauso, arquitetura, aspecto, assunto, avião, à mão, berro, boca, bordão, Brasil, brasileira, brasileiras, brasileiro, brasileiros, briga, briga de trânsito, caducidade, caduco, café, campo, cansaço, cansado, carro, cartesianismo, cartesiano, cão, cão fiel, cãozinho, cãozinho fiel, censura, certeza, charles de gaulle, cheiro, cidade, clara de ovo, colaboração, colega, coletivo, comentário, complexo, complexo de vira-latas, conceito, concorrência, conde, condessa, confusão, consciência, conservação, conservador, construir, conterrâneo, convivência, conviver, correção, correspondência, corroída, corroído, corrosão, cotidiano, crítica, crescer, crescimento, croissant, culpa, debochar, deboche, decolagem, defeito, derrubada, derrubar, descanso, descartes, desculpa, desejo, desembarcar, desembarque, desiludida, desiludido, desilusão, deslize, detalhe, dia-a-dia, diagnóstico, diálogo, difícil, discernimento, discurso, disputa, divisão, duradouro, educação, embarcar, embarque, enigma, enigmático, entrave, esforço, estado, estados unidos, estagnação, estagnada, estagnado, estima, estranho, estrutura, estudante, eua, euforia, execução, executar, executivo, expandir, expansão, expansivo, expor, exposição, expositivo, extremo, falta de educação, farinha, filho, fiscal, fluxo, folclórico, folclore, forma, frança, francês, francesa, francesas, franceses, frase, freio, gaules, gaulesa, gaulesas, gauleses, gália, governo, grave, grosseiro, grosseria, herói, higiene, idade média, idéia, idioma, importância, impressão, impropério, incompreensível, infinito, informação, inglês, interessante, interesse, invariavelmente, invariável, inveterado, jean racine, jornaleiro, língua, ler, liberal, liberalidade, liberalismo, lingüística, mal-educado, marcel proust, método, melodia, mercado, mesquinharia, mesquinho, metodologia, metro, missão, mistificação, mistura, moda, modernidade, modernização, modernizar-se, moderno, monumento, mundo, ninguém, nobre, nobreza, normal, normalidade, notícia, nuvem, obrigação, obrigado, observação, observar, oportunidade, origem, país, palavra, paris, parisiense, parisienses, partida, passadismo, pedra, pendor, pensar, pessoa, pessoal, população, pouso, povo, preconceito, preferência, presente, preservação, preservado, professor, progresso, promessa, propriedade, proprietária, proprietário, proust, questão, questionamento, questionar, quotidiano, racine, reação, redação, revolta, rue de rivoli, séria, sério, segredo, sexo, simpático, sujeira, sujo, tédio, título de nobreza, tedioso, tempo, terra, terra arrasada, trabalho, tradição, tradicional, trânsito, trem, triunfo, turista, ultrapassado, unanimidade, unânime, variedade, vão, velho, veneração, vida sexual, vira-latas, visita, vizinho 8 Comentários

Lampada Cabeca Fachada
Os brasileiros chegam e partem sem dar descanso, no fluxo dos pousos e decolagens de difícil discernimento. Vêm como turistas e estudantes, para visitar amigos ou executar algum trabalho. É uma alegria enorme quando chegam. Trazem notícias, algumas difíceis de engolir, outras tão antigas que dão a pensar que ninguém sabe ao certo há quanto tempo estamos fora. Em seguida, quase sempre, depois de uns dias, os amigos partem; furam as nuvens e desembarcam em suas cidades. Não sem, antes, deixar suas impressões sobre a visita à terra do croissant. De hábito, após a constatação quase generalizada de que “é tudo lindo”, vêm as críticas, severas e indignadas, aos franceses. Ou aos parisienses, o que não é a mesma coisa, embora, de certa forma, seja…

Na Gália, como os gauleses: antes de qualquer comentário, é obrigação expor o método. Método! Eis o segredo do triunfo entre os filhos de Descartes! Saiba que suas idéias podem ser furadas; seus conceitos, irrelevantes; seu discurso, tedioso. Mas se estiver claro o método, um belo método, um lindo método, o método dos métodos, o público será todo aplausos para o que quer que você diga, seja o que for, pouco importa. E lá vou eu, já me adiantando em críticas! Desculpe o deslize. Conforme o prometido, vamos ao método: neste caso, trata-se de dividir em dois campos principais o que se diz de mal da França e seu povo, para facilitar a exposição. Assim, são eles o campo pessoal e o coletivo. Agora, método exposto, missão cumprida, vamos ao verdadeiro assunto.

No plano pessoal, diz-se do francês que ele é grosseiro, mal-educado, sujo. Que destrata os turistas e não tem estima nem pelos próprios filhos, vizinhos ou colegas; gosta, no máximo, de seu cãozinho fiel. Que só abre a boca para xingamentos em brigas de trânsito. Que, finalmente, sua vida sexual só pode ser frustrante (sim, é o que se diz). Não vou me meter a corroborar ou desmistificar nada disso. Quem já foi expulso aos berros de um café, quem já temeu ser agredido por um jornaleiro da Rue de Rivoli só por ter pedido uma informação, quem já ouviu impropérios enigmáticos de um fiscal do metrô, não precisa de nenhuma colaboração de minha parte para firmar sua opinião.

Subamos, agora, ao plano coletivo, ao modo de ser do povo como um todo. Este é até mais interessante, porque comporta uma censura mais grave, aparentemente mais séria e, na minha modesta opinião, também mais acertada. É incrível como todos os visitantes têm a mesma capacidade de apontar o quão difícil parece ser para este folclórico povo europeu o esforço de modernizar-se, ou melhor, de aceitar que as coisas se modernizam. É uma unanimidade. Decolando do aeroporto de Roissy, todos os conterrâneos parecem partir com essa certeza. E, de fato, a turma por aqui costuma revelar uma preferência pelo jeito como as coisas eram feitas “antes”.

Poucas vezes questionamos como é estranho atribuir esse passadismo a um país que produz alguns dos melhores trens, carros e aviões do mundo (embora, no caso da Airbus, o crédito seja mais dos alemães). Mas mesmo entre aqueles que, como eu, não se consideram, de forma alguma, americanófilos inveterados, é difícil evitar de sentir nas ruas um cheiro e escutar nos assuntos uma melodia de coisa antiga. Talvez seja a arquitetura preservada, talvez sejam os monumentos, não sei. Alguém que, por pensar que gosta dos conceitos de mercado e concorrência, se considera liberal, tem certeza absoluta de que a culpa é do governo, que participa em detalhes de qualquer aspecto do dia-a-dia. É, pode ser.

Tudo isso pode, sem dúvida, não passar de mistificação. Preconceito, para usar a palavra da moda. Mas é difícil não concordar com o diagnóstico (quase unânime, repito) diante da preferência declarada de professores e estudantes por trabalhos redigidos à mão. Ou da revolta que o povo demonstra ao ser obrigado a ler um texto em inglês. Ou da veneração diante de formas lingüísticas incompreensíveis, mas recomendáveis “desde a Idade Média”. Convivo com pessoas cujas frases parecem tiradas de diálogos de Proust, para não dizer Racine, e acham perfeitamente normal. Sem contar as correspondências que chegam para a proprietária de meu apartamento, a “Condessa de la R.”

Acredito que a origem da dificuldade francesa com “o presente” é uma confusão difícil de deslindar entre o que é tradição e o que não passa de caducidade. Mas não será o caso de atirar a primeira pedra. Se aprendi algo com esse pequeno e, convenhamos, simpático defeito francês, foi que nós, brasileiros, temos o defeito inverso. Confundimos tradição e entrave, logo progresso com terra arrasada. Não perdemos uma oportunidade de derrubar monumentos do passado ou debochar dos heróis de outros tempos, em nome de disputas e desejos mesquinhos que nasceram ontem e amanhã já estarão mortos.

Assim, de um lado, os franceses não conseguem renovar sua forma de ser e agir; de outro, os brasileiros não conseguem construir coisa alguma de duradouro, porque as estruturas estão sempre sendo corroídas, por dentro como por fora. Em outras palavras, nosso esforço resulta vão, voltamos sempre ao ponto de partida. um pouco mais cansados, um pouco mais desiludidos. Crescemos, estagnamos, voltamos a crescer e a estagnar. Durante a expansão, temos consciência de que, mais cedo ou mais tarde, o freio virá; nossa reação é essa mistura de euforia e complexo de vira-latas que conhecemos tão bem.

Temos consciência de que o caso francês é o extremo oposto. Acho interessantíssimo observar os amigos que me visitam, quando falam do pendor local para o conservador e o antigo. Em todos, invariavelmente, o desprezo e a admiração se misturam como farinha e clara de ovo. Isso me lembra dois bordões eternos; o francês: “Como este país vai devagar!”, e o brasileiro: “Este país não vai pra frente!” Como dizem, os extremos se encontram no infinito.

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