Um diálogo curto, para dar um pitaco na efeméride do momento: homem na lua.
É que Neil Armstrong sempre me pareceu meio reticente ao pronunciar sua famosa frase. Como se ele não estivesse muito contente com o que dizia. É evidente que o astronauta não pensou o texto na hora, nem foi ele que o preparou. Mas até que ponto ele concordava com o famoso “it’s one small step for a man, one giant leap for mankind”? Talvez lhe parecesse cafona.
Imagino Neil na cafeteria, de manhã bem cedinho, tomando seu chafé com bacon e ovos, discutindo detalhes da missão com Buzz Aldrin e the other guy. Eles estão se fazendo de relaxados, rindo nervosos, contando piadas ruins. Entra um homem jovem, engravatado e engomado, carregando uma pasta. Ele dá bom-dia a todos, todos respondem em tom arrastado: “Bom dia, Al”.
Ninguém gosta desse Al. É um almofadinha.
Al coloca a pasta sobre a mesa e tira uns papéis. Pergunta aos três: quem vai ser o primeiro? Buzz e the other guy apontam para Neil, que ergue o dedo, fingindo que seu orgulho é fingido. Al, timidamente, se dirige a ele e lhe passa uma folha.
– Seu discurso está pronto.
Neil faz cara de amuado, mas toma o papel e um gole de chafé, cada um com uma mão, e lê o que está escrito.
– Você não quer que eu diga isso, quer?
– Nossos melhores redatores passaram semanas preparando o texto.
Incrédulo, Neil retoma a leitura:
– “Um pequeno passo para um homem…” que ridículo! Vai estar na cara que é ensaiado.
– Não faz mal.
– Eu vou me sentir um idiota.
– Não faz mal.
Naturalmente, o futuro primeiro homem na lua se exalta. Está afogueado e os perdigotos que solta atingem Aldrin e the other guy.
– Como é que é?
– É pela América. Os vermelhos vão ver só. Você é nosso herói, man!
-Pela América, my ass!
O herói nacional levanta-se. Al dá um passo atrás. Os outros dois astronautas ficam preocupados.
-É uma frase para a história, Neil.
-É, Neil, fica frio! (é a tradução que daria a dublagem da Globo.)
– Pra história, é? Então é pra falar com voz empostada? Um pe-que-no pas-so pa-ra um ho-mem… é isso?
– Vai ficar horrível.
– Vai ficar horrível de qualquer maneira. Deveria ser meu dia de glória! Pisar na lua! Buzz, não quer ser o primeiro?
– Tô fora! Você acha que eu vou fazer o discurso cafona?
– Al, por favor…
– Houston já decidiu. Agora, se me dão licença…
Al faz uma curta reverência e se retira. De costas, os astronautas não vêem seu ar triunfal, como o de um garotinho que acaba de fazer uma travessura. Mal sabe Neil, aquele presunçoso, quem foi que inventou a tal frase. Atrás dele, ainda dá para ouvir os impropérios do primeiro homem na lua:
– Goddamn!
Buzz Aldrin intervém, preocupado:
– Olha as suas coronárias, Neil…
The other guy está alarmado. Corre para o telefone:
– Houston, we have a problem…
Ha ha ha… muito bom amigo, até hoje também fico imaginando os diálogos (im)pertinentes que retumbaram pelas paredes da Apollo 11…rs
Abração
CurtirCurtir
Há! Realmente daria um curta interessante sua idéia… Se precisar de um ator para o “the other guy”, eu me candidato! Bjs
CurtirCurtir
Excelente! divertidíssimo; tão divertido que – claro! – se torna reflexivo, como todo humor de boa qualidade o faz. Bjs!
CurtirCurtir
Gostaria de voltar aquele tempo em que a tecnologia avançadíssima, permitia o homem ir a lua e falar em tempo real com a terre. Bons tempos aqueles…
CurtirCurtir