43 comentários sobre “Algo a dizer

  1. Esse tipo de discussão e muito interessante, e inclusive é um dos “argumentos” que o Paulo Leminski emprega no Catatau: excesso de informação ocasiona o quê? Redundância.

    Mas penso que deve haver, e há, algo mais do que nós mesmos projetados no centro da sala. Existe um jogo complexo, e que talvez não se compreenda muito por aí, especialmente os faladores de hypes: que relações existem entre o mundo “virtual” e o “real”? Diversas discussões de antes da existência dos blogues colocavam a questão do hipertexto: o hipertexto vem mudar a “realidade” (traduzindo: criamos meios novos para que mudemos a nós mesmos?), ou é a “realidade” que invadirá o hipertexto (criamos meios novos para continuar o que somos)? Nesse jogo entre essas duas perguntas, o papel do autor e da informação varia: um autor-autoridade às vezes não comete nada mais do que redundâncias em torno de sua própria pessoa; coletivos e nomes anônimos às vezes buscam compor relações que fogem à realidade ordinária, e ao hipertexto. Daí figuras como Hakim Bey, e certas discussões sobre o papel do autor algumas décadas atrás, talvez apontarem algo interessante.

    O caso de Bey mostra bem como existiria sim um papel importante nesse “meio” que é o hipertexto: ele serviria para os corpos comporem relações autônomas. Isso significa uma série de redobramentos: focar-se na importância da informação, e não do autor; mas apenas fazer isso para que a relação entre dois interlocutores não seja relação de gosto, de culto à autoridade, de caprichos particulares. Enfim, a relação entre o leitor, a informação e o escritor seria muito mais complexa, não visando apenas a escrita… embora a escrita, em si mesma, tivesse uma certa autonomia.

    Mas é uma pena que o teu texto é o primeiro da web, desde algum tempo, que parece chamar a atenção à boa questão que envolve os blogues. O pessoal está preocupado mesmo é com monetização.

    [cometi erros de formulação, por isso o terceiro comentário (peço que desconsidere os outros)]

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    • osrevni disse:

      Catatau,

      Sou muito cético quanto à possibilidade de relações autônomas em qualquer meio. Isso me parece um certo utopismo. Não podemos esquecer que a nossa é uma realidade de inspiração profundamente industrial. Um pouco metaforicamente, podemos dizer que toda relação é regida segundo a polaridade produção-transação-consumo.

      Não vou entrar muito em detalhes aqui (esse é o tema da minha tese, hehe), mas o interessante é observar que esses pólos se justificam mutuamente, formando uma sociedade em rede que, no fundo, é o que chamamos de sociedade de massa. Porque, de fato, para que essa estrutura se mantenha saudável, é necessário que o “sangue” circule o mais massivamente possível.

      O núcleo do argumento é que a internet, a blogosfera, as redes sociais, a forma de produção da Benetton e assim por diante representam a última fase de desenvolvimento dessa estrutura em rede. É, por enquanto, seu ápice e seu cúmulo.

      Sobre as relações, o fato é que a circulação de informação é como o “sangue” que circula massivamente, mas só como forma de manter o bom funcionamento da rede como um todo. Como acontece com o cinema, por exemplo: por que se produzem tantos filmes? Para que se possa produzir (e distribuir) tantos filmes. Por que tantos posts? Para que se possa postar. E assim por diante. Baudrillard disseca essa estrutura muito bem em A Sociedade de Consumo (mas, a meu ver, falta um pouco de base ontológica).

      É por isso que não acredito no hipertexto como formação de relações autônomas. Pra mim, o hipertexto é apenas uma engrenagem da estrutura, e a única autonomia nas relações é a autonomia (spinozista, será?) de bem se encaixar…

      Você tem razão, a turma está muito preocupada em monetização, SEO e mobilizações (droga, esqueci essas palavras na minha listinha acima). Pra mim, isso faz todo sentido. É uma decorrência natural da estrutura.

      (Respondi meio às pressas, espero que não esteja confuso demais.)

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      • Ok, mas e é só isso, sociedade de consumo-massa, eu no centro da sala, e ponto? Tua resposta se encaminhou para essa questão.

        Mas se é assim, se vc não vê outro senão vc no centro da sala (cabendo aos outros os papéis secundários, e no fim uma solidão engraçada e meio sem sentido), se o hipertexto e qualquer outro meio não ajudam a formular o problema de burlar a sociedade-industrial-de massa-em rede, trata-se apenas de mais um blogue e mais uma tese para alimentar a redundância do conjunto, é isso? No limite, não existiria comunicabilidade alguma possível, e um bom argumentador como você não passaria de um ‘schwarmer’, dado que no fim o papel do outro não é tão importante assim!

        Tuas análises com certeza são precisas, mas seria só isso? Enfim, não veria como não colocar problemas nisso tudo, pois é claro que boa parte do século XX achou muito difícil o problema de sair da racionalidade instrumental, do controle, ou do que quer que seja, mas a não ser que tratemos daqueles tais ‘pós-modernistas-relativistas-auto-contraditórios’ declarados (embora vejo mais comentadores desses, do que eles mesmos), qualquer desses autores sempre se importou verdadeiramente com a questão da autonomia, da autenticidade, da singularidade ou de algo que o valha, para além dos vários diagnósticos. Enfim, se não há mais saída, e se a escrita não se implica de direito com ela, o que teríamos? (enfim, é uma boa questão, e é claro que vc provavelmente se depara com ela, o desenvolvimento da tua resposta apenas a colocou)

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        • osrevni disse:

          Acho que você interpretou longe demais o que eu disse. Não é uma questão de “só ver a si mesmo” no centro da sala, mas de ver-se e isso ser suficiente, independentemente de quantos sejam os outros e, principalmente, QUEM sejam. É, no mínimo, uma estratégia pra manter a, digamos assim, independência.

          Porque a verdadeira questão é que o hipertexto, e acho que esse é o cerne da discussão, faz parte de um contexto que é revolucionário em muitos sentidos, sim, mas não é, ao contrário do que leio com frequência por aí, essa panaceia (maldito acordo ortográfico) emancipadora que está sendo vendida. A pergunta que inspirou este post, por sinal, é um pouco essa mesma: que novas formas de organização social (na falta de termo mehor) as tecnologias de comunicação deste início de século estão a instaurar?

          A meu ver, qualquer que seja essa organização, essa estrutura, certamente não é a solução para a alienação das relações humanas, a dialética do esclarecimento, nada disso. Muito pelo contrário, acredito piamente que ela segue e até aprofunda todas as contradições da sociedade de consumo, mitológica e fetichizada.

          Daí, duas coisas: em primeiro lugar, aprofundar contradições significa tornar a resolução mais urgente. Resolução é uma palavra capciosa, melhor é dizer que o que se torna mais urgente é a superação da estrutura que as provoca. Enfim, nesse sentido, sim, acho que há caminhos para autonomização e emancipação a partir do desenvolvimento das novas tecnologias. Mas indiretamente! Não é uma decorrência natural, é antes um processo agonístico e imprevisível.

          Por outro lado, você pergunta se não é possível, na minha opinião, escapar ao turbilhão alienista-fetichista-consumista, hype-meme-caralho a quatro. Claro que é! Pois não é justamente isso que tentamos fazer? É tão possível quanto sempre foi, sempre houve quem remasse contra a maré. Só que temos que nos dar conta de que, como antes, como sempre, mesmo essa oposição radical não pode ser pura e completa. Veja: usamos os mesmos métodos, os mesmos sistemas, o mesmo servidor que usam os mais banais blogueiros-hype deste planeta.

          É o mesmo dilema que enfrentaram as esquerdas ao longo dos séculos XIX e XX: enquanto o combatemos, contribuímos para o sistema. Ironicamente, talvez até melhor que seus apóstolos…

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          • Boa, concordamos plenamente, e é claro que os blogues também servem a propósitos próprios. Eu, por exemplo, uso o Catatau secretamente como um depositário de coisas não utilizáveis por agora, mas interessantes. Mas não há como a “publicidade” delas não conter um “apelo” aos outros, e a todos os outros, de modo a buscar certo consentimento (ou o contrário), mas sempre tentando por horizonte compor algum tipo de relação. Não fosse assim, o del.icio.us já seria suficiente.

            E vc chama a atenção para o fato de que a comunicação já não agencia mais, no fundo, essa comunicação entre sujeitos autônomos. Até mesmo constrange relações de autonomia, em muitos sentidos. Vemos muita proclamação de “liberdade” onde apenas existem contribuições ao sistema; proclamação de conteúdo onde existe redundância, etc..

            Mas aí que está, realmente mudou o foco dos ativismos possíveis. Lá em Israel, gente como Shimon Naveh fala sobre a criação de “espaços lisos” na Palestina, ou direções inusitadas para além das estruturas das cidades palestinas. O “espaço liso”, linguagem deleuzeana, serviria para propósitos muito pouco deleuzeanos: criar mobilidade de soldados israelenses em território palestino. Aí que está, dado o exército convencional, já se criaram guerras de guerrilha; agora, dadas as guerras de guerrilha, criaram-se novas estratégias ainda mais capilares; e assim por diante. O problema é difícil, mas parece sempre haver a possibilidade de transitar por meio de todo esse emaranhado que julgamos ser mais ou menos rígido (ou hoje, mais ou menos fluido). Daí o exemplo bobo do Hakim Bey parece ser interessante – e não vejo os hype-boys falando sobre ele (ainda bem! ou ainda!) 😉

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  2. Diego, lindo texto que provoca identificação imediata. Sinto-me muitas vezes nesse estado de solidão que você descreveu em detalhes, onde por muitas vezes estamos escrevendo para o “mundo” e, na verdade, descobrimos que não há ninguém do outro lado. No entanto, por outras vezes encontramos comentários de pessoas que realmente se preocuparam em entender a mensagem e emitir uma opinião. Parabéns pelo aniversário antecipado e espero continuar acompanhando seus textos por mais um ano!

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    • osrevni disse:

      Obrigado, Kovacs!
      Não sei se a sensação é tanto de solidão, e se for, não é necessariamente uma solidão ruim. O que me dei conta foi de que o “leitor ideal” que imagino (não imagino, só vou escrevendo), na verdade, é minha cópia perfeita, eu mesmo pronto para escutar a mim mesmo…
      Grande abraço!

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  3. Concordo que há muita gente escrevendo ou postando vídeos, fotos ou outros artifícios para encher o blog e poucos o atualizam diariamente. Mas ainda acho melhor do que escrever besteira…
    Outro ponto: acho o termo “blogueiro” tão preconceituoso. Sei lá, só pensando alto.

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    • osrevni disse:

      Acho que é mais ou menos a mesma coisa. Encheção de lingüiça…

      Também não gosto muito da palavra blogueiro, pra ser honesto. Mas está consagrado. Vamos ter que engolir, diria Zagallo.

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  4. Diegão, com certeza sempre tem alguém ouvindo, mesmo que seja só a sua voz interna… Já vale a pena. Confesso que não dá pra acompanhar tudo, mas os que sem querer me pego lendo, causam satisfação saudosa de minha querida Paris e sua forma de escrever leve e direta que tanto gosto. Abs e aguenta o frio que a gente aguenta o calor aqui…

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    • osrevni disse:

      Meu querido Lawrence Olivier do século XXI! Bom vê-lo por aqui. Também temos saudade daqueles tempos, nossos vinhos e passeios. Considere passar as férias por aqui, hein!
      Abração!

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  5. Dieguito, primeiro, meus parabéns pelo nada pequeno Para Ler. Qualquer blog que faça três anos vale mais que muito jornal de 50. Mas esse não é qualquer, até por guardar esse jeitão de caderninho bem-escrito. A gente que além de video, filme, foto, videoinstalação, work in progress em tempo real, também gosta de ler, agradece. É muito bom poder ler sem olhar.

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  6. Ricardo C. disse:

    Para não variar, você me deixou matutando, especialmente por conta das “regras” não escritas que atravessam as relações entre quem escreve num blog, aqueles que efetivamente dialogam com o blogueiro e seu texto, e tudo e todos que circulam silenciosamente ao redor — e ao redor de um círculo composto de dezenas de outros blogues, razoavelmente interconectados…
    Vejo também o quanto o desejo de interlocução é uma esperança a ser domesticada. Um escritor de livros, por exemplo, provavelmente tem expctativas diversas sobre qualquer tipo de conversa com os que leem sua obra — claro, desde que ele mesmo não seja blogueiro, hehehe! —, esperando primeiro que seu(s) livro(s) venda(m), seja(m) (bem) resenhado(s) nalgum suplemento literário, eventualmente receba(m) algum prêmio etc., para, quem sabe no meio do caminho, conversar com leitores nalguma feira de livros ou no coquetel de lançamento, enquanto pergunta para quem será a dedicatória. Com os blogueiros as expectativas são diversas, não? Afinal de contas, é pouco provável que uma caixa de comentários vazia e um contador de visitas diárias que mal chegue a dois dígitos sejam tratados com autêntico desdém, concorda? Da parte da maioria, o desejo é mesmo de interlocução? Acrescentaria: o quanto desse desejo não passa de um mal-disfarçado “querer plateia”?
    Destaco dois pontos altos deste post (entre tantos tão bons!):

    “… na essência, não se escreve em blogs para atualizar o germe de uma mensagem. Não é expressão, não é comunicado, não é nem mesmo opinião. Ao contrário, a publicação, a escrita, a atualização da página é que justificam a busca de opiniões, mensagens, sentimentos e idéias a expressar.”

    E consequentemente, a tal “página em branco” — hoje substituída pela “tela (do processador de texto) em branco” — e o metaconversê sobre o assunto são o destino inescapável de qualquer blogueiro, e algo que se aprende muito cedo…

    “Parece que todo o discurso que abriu este texto é charminho, conversa fiada para parecer diferente. Um pouco, talvez. Não vou negar. Mas também é verdade que sou movido por uma convicção injustificável de que o diálogo existe em alguma parte e não é regido só pela quimera tautológica de uma grande comunidade de internautas. Pode ser auto-engano, mas acredito que não estou escrevendo aqui só para preencher o espaço. Tenho a nítida impressão de que estou dizendo algo a alguém.”

    Por mais que às vezes vc se pareça a um professor que tive, que dizia que no fundo ele dava aulas para si mesmo, isto é, que organizava melhor seus pensamentos ao expressá-los para uma turma de alunos, sabe bem que esse mais do que evidente cuidado com o que escreve e como escreve vai um pouco além de falar para esse seu sósia, duplo, ou como quiser chamar. Afinal de contas, o Catatau e o Kovacs, só para citar duas figuras que vc admira e que não gastam teclado em blogues à toa, já estão aqui, a postos e dispostos a conversar.

    Resumindo: não passas de um dissimulado sedutor! 😉

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    • osrevni disse:

      Dissimulado, talvez, que sabe… Sedutor, quem me dera… 🙂
      Mas será que eu não posso ter cuidado com a escrita para minha própria projeção? Meu amor-próprio sempre foi um pouco deficiente, mas acho que mereço, mesmo projetado, que eu mesmo cuide da maneira como falo para mim, ou não?

      Frase confusa, hehehe, mas foi por querer!

      É claro que gosto muito dos interlocutores, quero eles sempre por perto e quando desaparecem eventualmente, fico triste e me perguntando “o que fiz de errado”. Mas não posso escrever PARA eles, porque por mais que eu me esmere em escrever alguma coisa de útil, sei que estou lhes roubando tempo precioso sem que eles tenham pedido (vamos colocar assim…).

      Então, escrevo pra mim mesmo, e quem quiser me emprestar alguns minutinhos, sou muito agradecido.

      PS: Se esta conversa estivesse acontecendo no e-group dos blogs do OPS, certamente a explicação que neguinho ia encontrar seria outra…

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      • Ricardo C. disse:

        Você já assistiu Dersu Uzala, do Kurosawa? Descrevo uma cena que guardo na memória (perdoe se não é igual, mas creio que o sentido segue preservado):

        Dersu leva o grupo de soldados para uma cabana abandonada no meio da floresta, já que choveria logo logo. No dia seguinte, passada a chuva e com todos prontos para partir, ele começa a ajeitar o telhado de palha. Depois, pede ao capitão que lhe arranje fósforos e um punhado de sal. Algum soldado pergunta para quê, já que se tratava de uma cabana abandonada no meio do nada. E Dersu responde que era para o próximo que viesse — não importando quem ou se viesse —, que assim poderia fazer fogo e salgar alguma carne de caça, de modo a conservá-la…

        Esse outro a quem vc dirige teus posts pode até ser o seu duplo, Diego, mas vou logo avisando que vc não me convence com esse oscilar entre “a modéstia de não querer incomodar” e esse “solipsismo metodológico” — também conhecido como “egocentrismo muito do besta”, hehehe!

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        • osrevni disse:

          Dersu Uzala foi o primeiro filme em que chorei. Como eu poderia esquecer?

          Não querer incomodar não é questão de modéstia, não. Veja, se eu perco uma tarde inteira escrevendo um texto que só servirá de incômodo para quem ainda por acaso o vir, então eu perdi meu próprio tempo, mais até do que o alheio. Por outro lado, a expressão que você usou, “solipsismo metodológico”, é muito forte… Afinal, trata-se de uma projeção, não de um genocídio mental. Colocar-se para fora de si é uma maneira de “resumir” o outro, esse conceito tão impreciso, justamente por ser formado pelo somatório da pura diferença e da pura contradição. E é uma solução muito prática, se você considerar, um pouco à la fenomenologia, que, para cada sujeito, o outro é uma reprodução internalizada desses outros todos que lhe são inacessíveis. Mais vale fazer o processo inverso, não?

          Comparando isso com o velho Dersu, ele cuida da cabana porque sabe como se sentem os próximos que porventura virão: sentem-se como ele se sentiu quando estava sofrendo debaixo do frio da Sibéria…

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          • Ricardo C. disse:

            A questão da modéstia e do solipsismo metodológico foi uma provocação que não consegui evitar de fazer, Diego… 😛

            Acho Dersu quase desprovido de “eu”, parecendo o mais próximo que existiria de alguém em “total comunhão”. Por isso penso que projetar-se, no caso de Dersu, sequer estaria em questão, já que o seu cuidado para com o outro é mesmo com o outro, ele “vive para”, não se concebe de outra forma, por mais solitária que pareça sua vida.

            P.S. Fico contente de saber da importância afetiva desse filme para você, que por sinal se parece com a minha. E nesse sentido, não posso deixar de notar que identifico com a tua explicação, e, ao mesmo tempo, percebo-me algo distante do que enxergo em Dersu…

            Abs!

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            • osrevni disse:

              A total comunhão me lembra muito os bebês, que, quando nascem, não diferenciam o mundo exterior do interior. A comunhão com o mundo não implica necessariamente a ausência do “eu”; acho que vale mais a pena pensar nisso como uma indiferenciação entre o mundo e o eu. O que não é nenhum absurdo, diga-se de passagem. Como vem dizendo Renaud Barbaras, quanto mais se olha para o “si”, mais se percebe o quanto ele só existe como intersecção de instâncias do “outro”…

              Por isso, digo que nossas percepções de Dersu não são assim tão distantes…

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  7. Diego, que coincidência sem nenhuma semelhança, postei hoje algo semelhante, mas nada parecido, seu texto é “elegante”, ponderado, pensado e magistralmente exposto, eu sou impaciente, escrevo direto, sou bruto, sou um macaco em loja de louças, digo o que penso, e não penso como devia, sou impulsivo blogueiro como impulsivo eu fui no dia a dia da minha longa vida, enfrentei durezas e batalhei molezas e ainda não aprendi o significado verdadeiro de ter “jogo de cintura”, conselho dado por pacificas ovelhas, mas lá vou eu nesse doentio impulso a falar besteiras, e eu leio e releio seus textos com o intuito de assimilar seu modo de escrever, és um escritor nato, acredite e continue a postar no seu blogue
    abraço

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    • osrevni disse:

      Mestre Iosif, vou te confessar que invejo muito o estilo impulsivo, cru, direto e forte. É uma pena que eu não consiga ter essa mesma abertura, que exige muita coragem, algo que me falta e que você já provou muitas vezes ao longo da vida ter de sobra. Temos aí uma reciprocidade!
      Abraço!

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  8. Em agosto de 2005, fiz o balanço de meu primeiro ano blogando e mudei o nome do blog de “Leseira Geral” para “Sempre Algo a Dizer” por ter chegado a conclusão de que este nome traduziria bem o espírito da coisa. Sempre tenho algo a dizer. Se não há quem queira ler/ouvir, já não é problema meu. 🙂 Larguei a nóia do contador de acessos e do número de comentários. Prefiro ter meia dúzia de leitores realmente atentos a algo que acredito interessante do que milhares passando os olhos sobre uma regurgitação qualquer.

    Machado inicia “Memórias Póstumas…” da seguinte maneira: “Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez… Dez? Talvez cinco.” Quer lição maior? Estou bem feliz com a meia dúzia que sempre lê o que tenho a dizer.

    A propósito, tenho estado ausente de sua caixa de comentários, mas jamais deixo de ler seu blog. Sem olhar, claro. 😉 Grande abraço.

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    • osrevni disse:

      Não sabia que seu blog tinha outro nome antes! E, pensando bem, acho que o título deste texto é uma homenagem, mesmo se involuntária, ao seu espaço…
      Adoro o começo de Memórias Póstumas… aliás, o livro inteiro. Sobre o silêncio que sofrem, no Brasil, aqueles que ousam querer escrever alguma coisa, recomendo A Conquista, de Coelho Netto (um grande autor que foi esquecido…)
      Grande abraço!

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  9. Salve, salve, mon ami!

    Volto ao seu blog depois de umas semanas de ausência… O prejuízo é todo meu, claro.

    Eu me identifico muito com as suas motivações blogueiras. Reconheço-me nelas, porque também tenho em mim alguns tagarelas na mente que me impelem a escrever, a colocar ordem no caos, ainda que na frágil aparência de um texto.

    Também tenho uma inominável preguiça desses blogueiros que “terceirizam” seus posts, colando vídeos do Youtube ou simplesmente ecoando o que leram ali ou acolá, no famoso CTRL C + CTRL V, com um comentário idiota embaixo. Meu blog pode ter todos os defeitos do mundo, mas esse ele não tem. Se não tenho tempo, vontade ou assunto para escrever, o blog fica parado mesmo. É mais digno.

    A blogosfera não seria interessante se fosse apenas um espaço a reverberar o que sai na grande mídia.
    Mas quem navega na blogosfera vê que há muitos “bravos” que querem ser “vozes independentes”, “autônomas” emulando Mainardis, Azevedos, etc. Há muitos “azevedinhos” por aí.

    Por isso. gosto tanto deste espaço: porque aqui há sempre textos e reflexões originais, que não encontro em lugar algum. Só aqui.

    Feliz aniversário e longa vida ao Para Ler sem Olhar (ou melhor seria “Para ler se molhar”: nas águas da boa prosa, da reflexão inteligente).

    Abraço,

    Lelec

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    • osrevni disse:

      Pois é, quando dei o nome do blog, não reparei no cacófato, hehehe… não faz mal, sempre tem alguém sagaz como você, que transforma uma tolice minha em poesia. Aliás, ainda me lembro da sua interpretação daquela foto da rolha, lembra daquilo?

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  10. Barros disse:

    Diego,
    Senti enorme identificação com seu artigo. Já estava até pensando em escrever algo sobre esse tema quando meu blog completasse um ano. Vamos ver no que vai dar.
    Penso que iniciei meu blog pela curiosidade em conhecer este tipo de mídia e a tecnologia que há por trás (afinal sou engenheiro), mas aos poucos, o que realmente me fez continuar foi o exercício de pensar, analisar e colocar em ordem meus pensamentos erráticos. Entendi também que mais importante que me preocupar em escrever para os outros lerem e ficar imaginando quem seriam meus leitores, é o diálogo comigo mesmo, o jogo da descoberta daquilo que realmente representa o que penso.

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    • osrevni disse:

      É rigorosamente o mesmo ponto de vista que eu comecei a desenvolver recentemente. Primeiro, a curiosidade; depois, praticamente um solilóquio…

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  11. Veja você!…
    Você deve ter a idade de meu filho mais novo, e no entanto para mim vale como um excelente interlocutor…
    Este seu texto (e o debate nos comentários) para mim valeram como uma sessão de psicoterapia (e eu é que sou a psicoterapeuta por aqui!…). Só que ainda não virei (nem pretendo) robô, e também preciso de interlocuções compartilháveis…
    Só estou deixando, por enquanto, esse bilhetinho, para você saber que estou por aqui, de olhos e neurônios atentos…
    Vou ler de novo, mais tarde, e pensar muito.
    Afinal, o Curiosa Identidade só existe como exercício para um futuro livro, o que não tem nada a ver com “textos-diário”, também.
    Ontem me disseram que me mandaram um “meme”; não tenho a menor idéia do que seja isso, e me dá uma preguiça horrível de ir investigar, com um monte de coisa (aqui e em papel) para ler…UFF!…
    MUITO BOM ter descoberto seu território e você…
    BJS!

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  12. Escrevemos para nós mesmos. Ocupamos um espaço imaginário no qual nos presenteamos com o contraditório e, algumas vezes, com a concordância. Particularmente me sinto assim, comentando para mim mesmo, assegurando que aqueilo que penso sobre determinado assunto esteja ali, eternizado no virtual. Bela análise sobre a blogosfera.

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    • osrevni disse:

      Penso também que, quando há reações, comentários, opiniões (divergentes ou não, tanto faz), é quase uma surpresa. Esse “outro” que aparece de repente na caixa de comentários é um enriquecimento para o autor, mas um enriquecimento completamente inesperado.

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  13. Na mosca! Eu diria isso do resumo acima, feito pelo Edgar Borges. No entanto, pensei isso antes, ao ler o teu texto. Na mosca!
    Mo mais: fã não comenta. Admira.
    Abraçamigo e fraterno.

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  14. Diego, para quem estava em dúvida se tinha algo a dizer, as várias “laudas” do post mataram as dúvidas. E vejam os comentários todos: é uma grande conversa, e isso é uma das coisas bacanas da história.
    Abraços

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  15. Que maravilha!

    Um dia ainda vou voltar aqui para ler toda essa caixa de comentários.

    Eu concordo plenamente com você num aspecto: acho que quem escreve (blogs ou mesmo livros) escreve para si mesmo. Um blog é para mim um lugar onde colocar meus devaneios. Nunca consigo escrever todos que pretendo. E acabo escrevendo um monte de futilidades bloguísticas (que são mais fáceis e rápidas que os devaneios da mente).

    Mas tenho hoje para mim que blog bom é aquele que não é atualizado demais.

    Afinal, ler e escrever em blogs é um vício desgraçado. Sob este ponto de vista é bom ficar livre dos blogueiros que postam várias vezes por dia…

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    • osrevni disse:

      Confesso que já enchi isso aqui de futilidades também… Não tem jeito, já dizia McLuhan, o meio é a mensagem, você é levado mesmo a nadar na direção da corrente. É intrínseco à matéria com que você está mexendo.

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  16. Diego,

    Tenho passado com certa regularidade por aqui, e seu comentário lá no CF&CG acabou proporcionando um motivo a mais para comentar pela primeira vez neste bom espaço.

    Quando vc diz que acha que está prolixo demais, só pode estar brincando, é óbvio. Quem dera mais blogueiros escritores como você fossem prolixos assim! 🙂

    Quanto ao ato de escrever, criei o meu blog apenas para publicar uns causos que estava escrevendo, de forma que os personagens (que são reais, de carne e osso!) pudessem lê-los. Acabei me adaptando bem à mídia blog, e publiquei tbem algumas coisas escritas mais antigamente. É claro que não há como saber todos que nos lêem. Mas aconteceu que, se no início eu escrevia somente para mim, depois que identifiquei 3 ou 4 que me liam com alguma regularidade, comentando ou não, passei a escrever também para eles. Escrevo muito pouco, e a literatura mundial agradece por isso, com certeza, mas eu sempre os imagino enquanto redijo, como se estivéssemos conversando sem compromissos.

    Ter um blog não significa, necessariamente, ser blogueiro. À mim, por exemplo, falta… hã… prolixidade!

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  17. Diego,

    Excelente reflexão sobre o “ser ou não ser” do blogueiro.

    O meu blog está indo para completar os 2 anos, alternando fases intensas com períodos de inatividade. E não consigo mais me forçar a todo santo dia parir um texto. Até porque não procuro mais me conter em textos curtos (salvo exceções).
    Não estou muito certo para quem escrevemos, para nós mesmos ou para os outros. No meu caso, o início era puro desabafo, não interessava quem viesse a ler. Mas o aparecimento de um pequeno grupo de comentaristas foi solapando aos poucos essa certeza.
    Pensando bem, talvez escrevamos para aquele leitor perdido no cafundó do Judas e que jamais comentará. Alguém bem parecido com nós mesmos, e ao mesmo tempo tão diferente.

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