Alguns anos atrás, nem sei quantos, uma imagem me marcou a ferro. É claro, sim, que muitas imagens me marcaram na vida. Mas esse caso me convenceu de que deve haver um compartimento específico e muito íntimo na memória, em que só caiba a lembrança de uma única fotografia. É lá que ficou guardada essa imagem que jamais esqueci. Mas se minha hipótese estiver furada e esse tal compartimento não existir, então não sei como foi acontecer. Uma dessas coisas, suponho, que se dão por mágica.
Era uma paisagem. Tomada do alto, provavelmente de um helicóptero. À direita, uma planície retalhada em grandes quadrados, verdes e de um amarelo acinzentado. À esquerda, o mar, numa baía rasa e arenosa, onde o curso das marés desenhava volutas aqui e ali cintilantes de sol. Ao centro, uma ilha redonda, um volume de pedra isolado entre dois ambientes aflitivamente planos, como a recusa extensa ao achatamento do horizonte.
Já um belo canto do planeta, certamente. Mas não particularmente memorável, sem o dedo do homem. Os medievais, em seu raciocínio transcendental, entenderam que aquela não era uma ilha qualquer. Só podia ser um canto que Deus queria mais próximo de si, para erguê-lo assim, sozinho, perdido na baía. Era evidente que deveriam construir ali um mosteiro, e assim procederam. Depois, deram-se conta de que não só estavam mais perto de Deus lá no alto, como estavam muito bem protegidos contra os vikings, a atacar cá debaixo. As obras foram expandidas. Muralhas, paredes, uma vila de pedra. A igrejinha do mosteiro, em poucos séculos, se fez catedral exuberante.
Eis o Mont Saint-Michel, a imagem agarrada à minha lembrança. Eu só queria descobrir onde ficava e como chegar. Quando desembarquei no aeroporto Charles de Gaulle, assim que o funcionário da imigração liberou minha entrada, ataquei: “por onde é o Mont Saint-Michel? Mas ele não estava no auge de seu humor e se limitou a indicar com a mão: “por ali”, e me dispensou.
<img class="alignnone" src="http://farm4.static.flickr.com/3176/2831151742_410b57592c.jpg?v=0" alt="Pedras amareladas do mosteiro do Mont Saint-Michel com a ba
com certeza meus passos alí deixados aos meu treze anos (1937) os seus encontraram alí agora, o tempo passa, a imortalidade da aquitetura medieval ou pós – medieval, eterno deslumbramento, hoje olho pras famosos e cantadas obras de arquitetura tão elogiada e contemporânea e levado ao futuro não muito distante só vislumbro um monte de entulho nunca um Mont Saint – Michel
abraço
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Li de um fôlego… e adorei!
Um abraço e bom domingo 😉
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Sei de um filme um tanto quanto datado que tem metade do seu valor por conta desse cenário. É “O Ponto de Mutação”, e o título tem mesmo a ver com aquele livro do Fritjof Capra. E mesmo datado, continua sendo um bom filme.
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Lindo texto! e o lugar realmente dá esta inspiração….
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Bah, Diego, não sei se consigo imaginar teu queixo caído ao ver essas imagens. Sublime, realmente sublime. Acho que embora seja difícil transformar em palavras, tu conseguiste passar uma idéia. Gostei demais do texto também.
Preciso conhecer mais o mundo. E isso é urgente…
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Tenho um amigo muito querido visitando a França agora. Mandei teu post pra ele. Ele precisa conhecer esse lugar.
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que vontade de conhecer o mundo. Que parece pequeno, mas tudo é tão intenso….
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